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Retalhos de heterodoxos: a cegueira dentro de um nevoeiro

Por Luiz Otávio Gonçalves Júnior

André Abdelnor Sampaio

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“O Catequista”, sua propaganda e sua noção de fé

Por Luiz Otávio Gonçalves Júnior

Fé e Missa, eis os dois campos de combate dos católicos da tradição. Recentemente, a atriz global Cássia Kis deu um fervoroso testemunho de conversão em um dos programas mais progressistas e avessos à fé: “Encontro com Fátima Bernardes”. Neste programa do dia 12 de maio, além de mostrar seu arrependimento do aborto cometido em décadas passadas e mostrando suas disposições atuais de dissuadir moças a abortarem, a atriz falou sobre seus hábitos religiosos: elogiou as famílias numerosas, comuns nos ambientes tradicionais; falou sobre a sua assiduidade nas missas dominicais e sua preferência pelo rito tradicional; e que só há fé na Igreja Católica.

Como esperado, a reação entre não católicos foi notada, apesar de mínima (reações de Twitter nem sequer chegando a 1000). Mas para a (não) surpresa de alguns, certa parcela de católicos achou um absurdo as falas nos respectivos campos de combate atuais: a missa e a fé.

1. Acerca do primeiro ponto, a página do Instagram “O Catequista” fez uma postagem “corrigindo” a afirmação de que a missa tridentina provém dos apóstolos:

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Além da figura sugestiva do Pinóquio abaixo da frase criticada, a página expressamente acusa de mentirosos aqueles que a afirmam, pois nas entrelinhas querem negar a Apostolicidade de todos os demais ritos:

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A falsidade da inferência é expressa: afirmar que uma parte pertence ao todo (o rito Romano é apostólico) não é negar que outras partes se prediquem desse todo (outros ritos não são apostólicos).

O segundo ponto é a confusão entre mentira (falsidade moral) e falsidade lógica. Dada a intenção da página de enxergar um ataque à missa de Paulo VI nas entrelinhas, o máximo que eles poderiam acusar a Cássia era de falsidade lógica (dizer algo não verdadeiro) e não de mentira (dizer o contrário daquilo que se pensa). Isto que a página fez é atribuir malícia a uma pessoa cuja intenção não foi expressa.

A página executa tão bem sua propaganda anti-tradição que incute nos seguidores o temor de “radtradismo” até mesmo nas falas mínimas:

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A resposta para o “O Catequista” já foi dada aqui:

https://centroavila.com.br/a-missa-dos-apostolos-uma-replica-ao-blog-o-catequista/

2. Acerca do segundo ponto, a mesma página repete Fábio Salgado de Carvalho:

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“[…] sim, o catolicismo é a única fé verdadeira, mas isso não é a mesma coisa que dizer que só existe fé no Catolicismo. Tal afirmação, além de ser antipática e de dar a impressão de arrogância, não é conforme a doutrina da Igreja”.


Antes de prosseguir, assumiremos a fé em seu sentido de virtude teologal, diferente da fé humana, e este sentido é claramente o usado pelo O Catequista e pelo Fábio, por meio do contexto das mensagens (sobretudo no que concerne ao batismo, ponto puxado pelo Fábio para a defesa de sua heterodoxia). (E que não nos admoestem pelo nosso mérito de fazer distinções, já que eles mesmos não o fazem e preferem trabalhar com a polissemia das palavras – o que é próprio dos sofistas).

Analisaremos este trecho primeiramente pela lógica, e o que nos salta à primeira vista é:

“[…] sim, o catolicismo é a única fé verdadeira, mas isso não é a mesma coisa que dizer que só existe fé no Catolicismo”.

Seria análogo a dizer que “o catolicismo é o único ouro verdadeiro, mas isso não é a mesma coisa que dizer que só existe ouro no Catolicismo”, não importando se este tal “ouro” é o latão, composto por cobre e zinco, que imita seu reluzir. A analogia com o ouro é perfeita, pois assim como o latão (mesmo sob o nome “ouro”) não é ouro de maneira alguma, a “fé” fora do catolicismo não é fé de maneira alguma.

É que o verdadeiro se diz das coisas reais como a adequação entre a essência e a aparência. Se o latão aparenta o brilho do ouro sem o ser, a “fé” (não católica) que se assemelha à virtude teologal da fé, também não o é. Talvez aqui o professor Carlos Nougué possa oferecer gratuitamente a Escola Tomista ao antitomista Fábio Salgado de Carvalho, sobretudo a aula 8, onde se explica as várias noções de verdade.

Analisemos agora através da doutrina católica:

A noção de fé dada pelo Catecismo Romano é:

“[…] a virtude que nos leva a ter por certo o que a autoridade da Santa Mãe Igreja declara ser revelado por Deus”. (Parte Primeira: O Símbolo dos Apóstolos, Capítulo I. – Da Fé e do Símbolo da Fé)

De antemão já se nota a incompatibilidade da fé com os de fora da Igreja, já que estes não aderem à doutrina da Igreja como que à sua regra infalível e divina para aquilo que foi revelado por Deus. Com a palavra, Santo Tomás de Aquino:

“Por onde, quem quer que não adira, como a uma regra infalível e divina, à doutrina da Igreja, procedente da verdade primeira manifestada pela Sagrada Escritura, não tem o hábito da fé” (ST. IIa-IIæ, q. 5, art. 3).

Ora, quem está fora da Igreja não adere à doutrina da Igreja como que a uma regra infalível e divina. Logo não tem o hábito da fé.

E continua:
“[O herético] Aceita, porém, as verdades da fé de modo diferente do que, por ela, as aceitaria. Assim como quem admitisse mentalmente alguma conclusão, sem lhe conhecer o meio por que é demonstrada, manifestamente não tem dela a ciência, mas só a opinião”. (Ibid.).

Logo, os não católicos, ainda que aceitando algumas verdades de fé, eles não possuem fé (nem nestas verdades), mas só opinião, por rejeitarem o meio (a doutrina da Igreja como regra infalível).

Voltemos agora para o Catecismo Romano para vermos quem está de fora da Igreja:

“Daqui se infere que só três classes de homens são excluídas da comunhão com a Igreja. Em primeiro lugar, os infiéis; em segundo, os hereges e cismáticos; por último os excomungados”. Parte Primeira: O Símbolo dos Apóstolos, Capítulo X. – Do Nono Artigo)

Logo estas três classes de pessoas não têm o hábito da fé.

A partir do que foi dito fica evidente que o que deriva da doutrina católica é o oposto do que o “O Catequista” afirma: que o hábito da fé seja exclusivo dos católicos, isso sim é conforme à doutrina da Igreja.

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Respondendo à emenda que saiu pior que o soneto

Por Luiz Otávio Gonçalves Júnior

André Abdelnor Sampaio

Fábio Salgado de Carvalho fez uma sequência de stories para tentar explicar aquilo que foi dito pelo “O Catequista”. Mas ao invés de aplicar o que a Igreja ensina sobre a fé, sobre a Igreja em si mesma e sobre os que estão fora dela, ele tenta utilizar uma argumentação indireta a partir do sacramento do batismo:

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Obs: Apesar da sua linguagem passivo-agressiva costumaz, e exaustivas adjetivações, tentaremos nos manter naquilo que há de mais argumentativo nas suas palavras, algo como que a premissa maior de um argumento, por exemplo.

Apesar de expor corretamente as condições de um batismo válido nos seus stories, o que servirá de inferência para concluir que há fé fora do catolicismo será este trecho:

“Quando um pastor batiza validamente um membro da sua Igreja, ele recebe todos os efeitos do Sacramento, incluindo a virtude teologal da fé”.

Logo, se esta afirmação do Fábio estiver correta, os protestantes e ortodoxos que forem validamente batizados recebem todos os efeitos do sacramento.

Mas Fábio toma como verdadeiro algo que é falso. Como nos ensina Santo Tomás, o batismo possui duplo efeito: o caráter e a graça. Não é necessária a fé perfeita da parte do batizado para que se imprima o caráter, obra da virtude de Deus e não da justiça de quem confere ou recebe o batismo. Mas para o recebimento da graça, ao menos para os adultos, é necessária a fé perfeita:

“Como do sobredito se colhe, dois efeitos causa o batismo na alma: o caráter e a graça. Logo, duas necessidades incluem o batismo. A do que é indispensável para se obter a graça, que é o efeito último do sacramento; e deste modo a fé perfeita é necessária ao batismo; porque como diz o Apóstolo, a justiça de Deus é infundida pela fé de Jesus Cristo (Rm III, XXII)”. (ST IIIa Pars, q. 68, art. 8)

Nos antecipamos respondendo a uma possível objeção. Fábio poderia arguir que os protestantes não são hereges. Mas com isso respondemos com o próprio Fábio nos stories, com algumas adaptações (ao nosso ver ele definiu mais o que é um herege do que a heresia em si):

Citação original:

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Adaptado:
“Herege é o que nega ou duvida pertinazmente, após a recepção do Batismo, qualquer verdade que se deva crer com fé divina ou apostólica.”

Concordamos perfeitamente, senhor Fábio. Mas devemos notar que o senhor mesmo corta o teu argumento pela raiz, pois se os protestantes também negam pertinazmente alguma verdade de fé, eles se tornam hereges, logo não têm o hábito da fé – como vimos –, mesmo sendo validamente batizados. De fato, se reconheces que o herege é alguém batizado, arguir que o batismo dos protestantes é válido não enfraquece a tese contrária, mas só a confirma.

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Aqui não podemos deixar de notar que o parágrafo do catecismo mencionado é um compilado dos documentos Lumen Gentium e Unitatis Redintegratio, ambos do Concílio Vaticano II. Ora, se o Fábio, por meio de suas ações, se digna a responder as objeções tradicionalistas, ele deve partir de princípios comumente aceitos entre ele e os mesmos tradicionais, afinal “contra principia negantem non disputandum est”.

Por outro lado, Fábio já verbalizou que os tradicionalistas não são dignos de debate ou diálogo, mas de ostracismo. Se isso é verdade, a razão de ser de todos os seus prints inexiste, a não ser que ele diga isso como mero artifício retórico para se esquivar de um diálogo minimamente honesto.

Por fim, decida-se: ou nos ignore de uma vez, não respondendo a nenhuma objeção; ou nos responda, mas assumindo as boas disposições para tal.

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Só agora o senhor Fábio decidiu (finalmente!) fazer alguma distinção. Ele vai definir em qual sentido a palavra “católico” assumirá para que os hereges e os cismáticos sejam contemplados com tal graça.

“A partir de um desses sentidos, nós podemos afirmar que só haverá católicos no Céu. Em qual sentido? No sentido de que é católico qualquer um que esteja incorporado ao Corpo de Cristo, lembrando que essa incorporação ocorre por meio do batismo”.

Logo se o batismo dos protestantes é válido, eles são incorporados ao Corpo de Cristo. E como o sentido tomado foi “só haverá católicos no Céu”, parece que os protestantes também se salvam. Argumento quase brilhante, errando somente por um S. Pio X de distância:

“3) Quem é o verdadeiro cristão?
Verdadeiro cristão é aquele que é batizado, crê e professa a doutrina cristã e obedece aos legítimos pastores da Igreja”. (Catecismo Maior de São Pio X. Lição Preliminar – Da Doutrina Cristã)

Retornemos à boa lógica: o catecismo define o católico a partir de um juízo copulativo, tendo um sujeito e três predicados. Fábio Salgado só se esqueceu de mencionar os dois últimos predicados na sua definição. Muito curioso para alguém que acusa os outros de mau preparo filosófico. Talvez isso não seja para ele algo simples e cotidiano.

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“Nesse contexto, ortodoxos e protestantes batizados validamente são católicos, mesmo que não saibam disso. Eles apenas não estão em plena comunhão com Roma”.

Isso esclarece muitas coisas. Primeiro, além da definição dada de “católico” ser errada, notamos que se desvanece a distinção entre Igreja Militante e Igreja Triunfante, já que nem todo batizado se salva (Fábio obviamente sabe desta verdade elementar; mas ele não pode reclamar por mostrarmos os efeitos últimos de sua péssima exposição). Segundo que o Catecismo Romano diz que os hereges e cismáticos não estão inclusos na Igreja Militante. Daí de duas, uma: ou Fábio discorda da doutrina católica a respeito dos hereges e cismáticos; ou concorda com a doutrina, mas nega que protestantes e ortodoxos sejam hereges e cismáticos, respectivamente. Em ambos os casos se nota a sua heterodoxia.

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E dá-lhe neblina. Após toda a frustrada tentativa de concluir indiretamente que os protestantes têm fé, Fábio tenta agora misturar os preceitos da lei divina, como as coisas necessárias para a salvação¹, como é o caso da fé², com as leis disciplinares e eclesiásticas.

“Batizados em meios protestantes não precisam seguir as mesmas regras canônicas que alguém que foi batizado na Igreja Católica”.

Só faltou acrescentar que é necessário que o batizado preserve a fé, e que esta seja informada pela caridade, para que se salvem – juntando-se à Igreja Triunfante.

¹ “Se a confissão da fé é necessária à salvação. ST IIa-IIæ, q. 3, art. 2

² “Se crer é necessário à salvação”. ST IIa-IIæ, q. 2, art. 3

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Aqui ele basicamente resume sua argumentação ao longo dos lamentáveis stories.

Insistimos exaustivamente: ter sido batizado não é condição suficiente para permanecer no Corpo da Igreja, pois os hereges (que são batizados) não têm fé e não fazem parte da Igreja.

O que dissemos de modo insistente até aqui é algo simples de se notar, mas talvez a paixão dominante de um ex-protestante exaltado não lhe permite enxergar estando no meio da névoa que ele mesmo criou.

ATT – A emenda que é pior que a emenda do soneto, por Luiz Otávio.

Após um tempo desses stories, Fábio decidiu se “corrigir”:

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“Tenho insistido repetidamente aqui que praticamente qualquer termo teológico é polissêmico; então, pode significar muitas coisas, ao mesmo tempo, em contextos diferentes.

Eu tinha acabado de gravar o meu aulão sobre a salvação quando me manifestei aqui; então, estava com o conceito de fé como virtude teologal na cabeça”.

Era óbvio que Fábio estava usando o conceito de virtude teologal, já que quis argumentar que os protestantes têm fé por meio do batismo, como dissemos no início do artigo.

Fábio tentará se corrigir agora recorrendo às distinções do teólogo dominicano, Padre Royo Marín:

Agora há pouco, consultando o ‘Teologia da Perfeição Cristã’, do Padre Royo Marín, deparei-me com a divisão entre fé subjetiva e fé objetiva”.

Apesar da sagacidade no grande Fábio, a distinção entre fé subjetiva e fé objetiva não o salva, pois como ambas são distinções, elas carregam em suas respectivas definições o gênero próximo do conceito “fé”, definido pelo teólogo dominicano. Vejamos:

“[..] En estas palabras están recogidos todos los elementos esenciales que deben entrar en una buena definición: el género próximo (virtud teologal infusa) […]” (Teologia da Perfeição Cristã – Livro II, art. 1)

Então, apesar de dizer que “estava com o conceito de fé como virtude teologal na cabeça”, ao usar fé subjetiva ele continua usando uma distinção de virtude teologal. A não ser que o Fábio queira negar que o gênero próximo integre a definição de uma espécie sua, contrariando o bom aristotelismo-tomismo e a própria fala do padre Marín.

Apesar de não salvar sua argumentação frustrada para dizer que protestantes possuem fé e são católicos sem o saber, Fábio concede (viva!!) que a fala de Cássia Kis não é errada:

“Nesse sentido a fala da Cássia é perfeitamente ortodoxa”.

Mas não nos entusiasmemos ainda com o Fábio:

“Em verdade, voltando ao assunto de fé, estávamos falando de algo simples: bastava apelar às distinções dos tipos de fé, mas ninguém que discordou de mim teve a caridade de fazer uma correção fraterna justificada, com embasamento teológico, de forma sóbria”

Isso não é verdade, pois Fábio recebeu um aviso (misturado com algumas ironias) para distinguir os efeitos do batismo (a fé aqui é inclusa) em privado, e o resultado foi um “block” e uma exposição pública (não que nos incomodemos com tais vanidades):

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Diferente do Fábio, não nos incomodamos muito com adjetivações torpes, ridicularizações ou ironias bem usadas. Mas a sua presunção não pode passar batida:

  1.  Fábio, assim como o “O Catequista”, dá como óbvio que exista fé fora da Igreja:
    1. Mas se é assim tão óbvio, como foi que o senhor errou seu juízo sobre a fala da Cássia, já que és dono de “aulões” sobre a sã doutrina, sendo necessária uma “correção” (que no fundo pouco corrige)?
  1. Poderíamos dizer, com o senhor, que “já estou cansado de lidar com gente tão burra e ignorante, que não estudou absolutamente nada, que fica de heresiômetro ligado, lançando excomunhões ao vento, julgando temerariamente corações alheios”? Ou isso só não é temerário quando é o senhor quem julga?
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  1. Talvez o vitimismo, a hipersensibilidade e a cegueira do Fábio tenham-no impedido de aceitar os breves avisos, talvez incomodado com ironias bobas – muito aquém da gravidade de suas palavras habituais. Mas é de uma falta de proporção gritante ter o hábito de difamar católicos tradicionalistas e, para consigo, exigir uma falsa caridade, que na verdade é uma lisonja e tolerância indevida com seus erros em matéria doutrinal e acusações injustas contra os católicos, ambos feitos de modo público. (Para acusar é um leão magnânimo; para ouvir é um pinscher assustado).
  1. Notemos também a seguinte hipocrisia
    1. Se o senhor, sem caridade alguma, julga que os católicos tradicionais são “asininos”, “gente burra”, “gente que não produz nada, que nunca levou uma alma pra Igreja, que só sabe ficar reclamando, o dia inteiro, em rede social sem fazer nada efetivamente”, qual é a caridade que o senhor espera?
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  1. Por fim, eles atribuem a confusão obstinada em que eles mesmos se metem como causada pelos tradicionalistas:
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Se o “O Catequista” e o senhor Fábio se colocam na posição de professores e erram em coisas simples publicamente, deveriam aguentar a mínima repreensão pública.

Só adiantamos que a fé não é mera “desculpa” para confundir ninguém. A fé é o tesouro imerecido que a Igreja nos dá. Se confundimos algum católico honesto, é um efeito não desejado; se confundimos soberbos cegos que querem guiar, então é um efeito não rejeitado.

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Diferentemente do que o Fabio pede aos seguidores, não restrinjamos nossas orações: rezemos nós também a todos os católicos, sendo eles sinceros, mansos e humildes; ou insinceros, belicosos e soberbos. E sobretudo, rezemos para que Fábio se retifique doutrinalmente, em primeiro lugar, e isto lhe porá no caminho de deixar de incorrer em desonestidades intelectuais.

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A fé sobrenatural e a sã intrasigência própria do católico

Por André Abdelnor Sampaio

Como fora observado, Cássia Kis descreveu de modo simples, mas verdadeiro, o ato de fé sobrenatural: “Não é um encontro, mas é ver a Verdade, estar dentro da Verdade”, contrariando a concepção modernista de “encontro” tão cara aos autores heterodoxos, que depreciam o objeto da Fé.

“Ver a Verdade” não por uma evidência da razão, mas pela Graça que ilumina a inteligência e convida a vontade a crer nas verdades divinas anunciadas pela Igreja, amparado na autoridade de quem a revela.

Com isto não estamos “canonizando” a atriz, que certamente precisa consolidar a formação dela na Tradição, antes que pescadores de águas turvas a traguem e a façam desviar do caminho reto, pelas vias do conservadorismo e da nova direita, falsamente católica.

Em uma das ótimas declarações da atriz, uma que causou um farisaico mal estar foi quando ela disse claramente: “a Fé só existe no catolicismo”. Tal frase faz qualquer infiel e sobretudo o modernista que se diz católico trincar os dentes.  Alguém pouco esclarecido, e influenciado por slogans atuais acharia a frase de uma arrogância sem tamanho.

Poderiam indagar: “Mas como assim só há Fé no catolicismo? Por que essa arrogância de achar a sua fé superior às demais”?

É isto que um infiel e um mundano pensam, envenenados que estão por concepções materialistas e igualitárias, modernistas. Eles não entendem o que é realmente uma religião, seu fundamento e seus termos. E a situação se torna mais drástica quando declarações assim surgem de quem se diz católico, mas que não possui doutrina verdadeira, como é o caso da página pseudo-católica “O Catequista”, que poderia muito bem ser denominada de “O Modernista”.

Para terminar de desfazer as confusões e heresias ensinadas por esta página e pelo mal formado Fábio Salgado, precisamos relembrar certos princípios básicos da verdadeira religião, e da concepção de religião enquanto virtude da justiça:

1- Para ser verdadeira, com alcance sobrenatural, a religião, enquanto parte potencial da justiça que busca render a Deus o culto devido, deve ser revelada por Deus, e não um produto da mente humana.

Se religião é o conjunto de gestos, atos, disposições que regem nossa relação com Deus, é o próprio Deus a parte mais importante desta relação, e portanto, é Ele quem deve dar os termos e condições de modo adequado à natureza humana, de como o homem deve ir até Ele. Isto não pode ser fruto do mero gosto ou capricho humano, mas de uma iniciativa divina.

2- Se há um só Deus, Ele não pode ser esquizofrênico, não pode ter concepções antagônicas ou contraditórias acerca d’Ele mesmo, nem pode revelar coisas que não realcem sua verdadeira natureza, una em substância.

3- As religiões se contradizem em pontos capitais, pelo próprio princípio de não-contradição, elas são incompatíveis, e não realçam a unicidade divina, muitas admitem práticas contrária à lei natural, e se baseiam em mitos ou superstições frutos de maquinações humanas ou Preternaturais (demoníacas, no caso). Não há “unidade transcendente” das religiões, na medida em que tal postulado é absolutamente incompatível da Trindade de Deus e com a Encarnação do Verbo.

4- Só pode haver uma única religião verdadeira, que realce a unicidade divina, e que dê ao homem motivos de credibilidades suficientes e condições de cumpri-la para que Deus se faça propício ao homem.

5- Ora, é na Encarnação do Verbo, onde o próprio Deus assume a natureza humana em Jesus Cristo, que há a perfeita comunicação de propriedades divina e humana na Pessoa do Verbo, fazendo com que Deus seja propício ao homem, ao participar da Vida de Cristo, pois é pela Sua Humanidade Santíssima hipostasiada na Sua Pessoa divina que a vida de Deus é infundida no homem. Não há verdadeiro Cristianismo sem Igreja Católica, pois apenas a Igreja Católica Apostólica Romana possui as quatro notas indispensáveis que constituem a Igreja de Cristo, de modo que há uma identidade substancial entre Cristianismo e Igreja Católica.

6- Portanto, quando alguém afirma que só há Fé sobrenatural no catolicismo, está sendo coerente com o princípio de não-contradição, e sendo fiel ao que Deus revelou para que todos participem da natureza divina, para que Deus se faça propício a cada um dos homens por Jesus Cristo, sobretudo, pelo Sacrifício de Cristo na Cruz, renovado de modo incruento em cada Santa Missa.

Isto é, propriamente religião, digna de Deus, onde Deus assume hipostaticamente a natureza humana, e Se oferece a Deus-Pai, no Amor do Espírito Santo.

7- Afirmar isto não é arrogância, pois não se trata de uma invenção humana. Seria arrogância se o catolicismo fosse uma invenção de um homem, fosse fábrica de um indivíduo particular. Mas não o é. É a revelação divina. Não se trata de arrogância, mas de santa altivez. Grata fidelidade.

Orgulho e arrogância estão no homem moderno em tomar como falso aquilo que o supera, e achar que nada pode ser superior ao seu mero capricho.

8- Um católico fiel, ainda que medíocre em vários pontos, mas que guarda a verdadeira Fé, não incorre em arrogância ao dizer que o Catolicismo é a única religião verdadeira, porque ele não está defendendo algo que é criação sua. Ele sabe que ser católico não é mérito dele, mas uma Graça, um dom imerecido, que ele jamais poderia alcançar por si próprio.

Ele está sendo grato ao benefício imerecido que recebeu, que é poder participar da natureza divina e ser redimido de seus pecados por Cristo, participando do Seu Corpo Místico, a Igreja.

9- Deixar de dizer esta verdade é simplesmente não reconhecer a maravilha que Deus fez e faz ao fiel todos os dias. É um ultraje à divina bondade.

Por isto, todo católico é absolutamente intransigente neste ponto, pois transigir em matéria de Fé é não ter Fé, ceder em matéria de princípios é não ter princípios.

Longe de ser um mero “fanatismo irracional” fruto da ignorância e do preconceito, é na verdade uma intransigência sólida e esclarecida, convicção firme e serena.

10- O católico se porta de modo serenamente convicto, sem destempero, sem afetação. Com convicção sólida, esclarecida, firme, dando razão de sua Esperança. Dizendo claramente que não há Fé sobrenatural fora do catolicismo.

É certo que a declaração de Cássia sofrerá a incompreensão e ódio de muitos, pois não é o discípulo maior que o Mestre, e o Mestre foi crucificado justamente por dar testemunho da Verdade, que é Ele próprio.

O espírito cristão transige com o que é seu. Sabe renunciar seu juízo ou gosto próprio sempre que necessário ou conveniente, sabe tolerar e ouvir opiniões contrárias em matéria opinável. Mas ele não transige com o que é de Deus. Nisto está a intransigência do católico.

Porque o que é divino não pode ser alterado, cortado, suprimido ou melhorado.

11- A doutrina católica é divinamente revelada e, portanto, deve ser guardada e defendida com suma diligência e delicadeza em sua integridade, sem ceder um “iota”.

“Pois em verdade vos digo: passará o céu e a terra, antes que desapareça um jota, um traço da lei.”-Mt 5:18

Portanto, fé mesmo sobrenatural, revelada por Deus, somente existe no Catolicismo.

Nas falsas religiões, existe crendice, superstição, fideísmo, opinião. Mas nunca fé divina e católica.

Nota final: Nós pedimos ajuda dos amigos do Fábio, para que, caridosa e fraternalmente, colaborem com esta aspiração “vocacional” de buscar o isolamento eremítico, ao menos das redes sociais enquanto permanecesse sem boa formação. Isto traria um bem para ele como o próprio reconhece (embora não pela mesma razão que nós), e faria também com que ele cessasse sua obra sistemática em desviar as almas da Fé com suas doutrinas heterodoxas, e de brinde, causasse menos vergonha alheia em qualquer pessoa sensata, contribuindo assim com o bem comum:

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4 respostas em “Retalhos de heterodoxos: a cegueira dentro de um nevoeiro”

Prezado, Salve Maria!

Por que na sua exposição simplesmente não se fala dos hereges materiais? Sobre os protestantes e cismáticos de boa fé? Esses têm, sim, a fé sobrenatural/hábito da fé. Algumas frases genéricas desse texto parecem excluir essa possibilidade. Alguns exemplos: “… se os protestantes também negam pertinazmente alguma verdade de fé, eles se tornam hereges, logo não têm o hábito da fé – como vimos –, mesmo sendo validamente batizados”. “Logo, os não católicos, ainda que aceitando algumas verdades de fé, eles não possuem fé (nem nestas verdades), mas só opinião, por rejeitarem o meio (a doutrina da Igreja como regra infalível)”.

A melhor teologia pré-conciliar diz claramente que os heréticos de boa fé podem preservar a fé sobrenatural. Billot fala claramente disso: “A heresia dos hereges materiais não é, pois, imputável como pecado e não é necessariamente incompatível com a fé sobrenatural que é o início e a raiz de toda a justificação. Pois eles podem crer explicitamente nos artigos principais e crer nos demais, embora não explicitamente, porém implicitamente, por sua disposição de espírito e boa vontade em aderir a tudo o que lhes seja proposto suficientemente como tendo sido revelado por Deus”.
https://diario-de-um-catolico.blogspot.com/2016/06/215-nota-que-sao-os-hereges-formais-e.html

Até mesmo não cristãos, eventualmente, podem ter fé sobrenatural. Cardeal De Lugo: ‘Enquanto aos turcos, e aos demais maometanos, se forem daqueles cujo erro sobre Cristo e Sua divindade seja invencível, nada se opõe que possam crer com verdadeira fé sobrenatural ao Deus único renunerador na outra vida como Ele prometeu, já que eles não crêem neste Deus pela força de uma razão que parta do mundo criado, mas como um dogma que tiram da tradição, tradição procedente da verdadeira Igreja e que chegou até eles, enquanto a ela acrescentaram erros próprios de sua seita'” (De fide, disp. XII, n. 51) “Sustento que é necessário dizer o mesmo dos Judeus, se há entre eles quem tenha erro invencível sobre a religião cristã; Com efeito, podem ter, todavia, uma verdadeira fé sobrenatural sobre Deus e outros artigos, fundada na Sagrada Escritura que eles admitem, e por isso, dessa fé passar à contrição que os justificaria e salvaria, se a fé explícita em Cristo não é necessária com necessidade de meio” (De fide, disp. XII, n. 50)

Um abraço.

Salve Maria.

Nossa resposta teve como fim os comentários do Fábio, onde este não tratou da heresia material ou formal, mas da possibilidade da fé fora da Igreja (posteriormente ficando claro que ele se referia especificamente aos meios protestantes). E para isso se valeu do argumento do batismo, não distinguindo a necessidade da fé para o efeito segundo (a graça) e a sua não necessidade para o efeito primeiro (impressão do caráter).

Para o primeiro ponto, nós nos valemos principalmente do Catecismo Romano; e, para o segundo, da Suma Teológica. Julgamos que não seriam pontos de discordância para a posição continuísta, já que estes não creem na chamada “descontinuidade”.

Para o ponto que o senhor aborda, nem é preciso trazer Billot e de Lugo, pois a própria questão de Santo Tomás que colocamos já deixa a coisa clara:
“E assim é manifesto que o herético, descrendo pertinazmente em um artigo de fé, não está disposto a seguir em tudo a doutrina da Igreja. Se, porém, não houver pertinácia já não é herético mas apenas errado”.

Fica claro, pois, que não havendo pertinácia, os que aderem às teses heréticas ou cismáticas não são nem hereges e nem cismáticos, pois não abandonaram o magistério da Igreja como regra próxima de fé. Por exemplo, se uma senhorinha católica analfabeta e pouco instruída acha que Deus não é trino, mas que facilmente aderiria às verdades de fé pela sua fidelidade à Igreja. Ou até um camponês alemão pós-revolução protestante, que cresse piamente em alguma heresia do catecismo de Westminter, mas caso tivesse os meios devidos de instrução, aderiria à doutrina da Igreja e ao magistério.

Portanto, a primeira citação do nosso texto que o senhor seleciona de modo algum dá a entender a impossibilidade da ausência dessa mesma pertinácia apontada por Santo Tomás: “se os protestantes também negam pertinazmente alguma verdade de fé, eles se tornam hereges, logo não têm o hábito da fé”. Note que usamos “protestantes”, sem dizer que todos o sejam (tampouco alguns), pela possibilidade de alguém que esteja eventualmente nessa seita não ter pertinácia na rejeição do magistério da Igreja.

Os demais hereges materiais, os quais não se encontram em ignorância invencível, não são necessariamente de boa vontade, ainda que nunca tenham sido membros da Igreja para negarem a Fé com pertinácia a ponto de serem excomungados pela autoridade competente. Tal fato não os isenta da culpa de ignorar a verdadeira religião tendo condições de conhecê-la.

Se eles rejeitam materialmente a verdadeira religião por ignorância acerca da verdade revelada ou do que realmente consiste o seu conteúdo; ou por negligência e descuido de buscá-la; ou por negligência e descuido de entender o seu sentido verdadeiro, mesmo possuindo os meios de conhecê-la (meios estes que quanto ao aspecto subjetivo somente Deus julga de modo perfeito no caso concreto quem os tem e quem não os tem, sem que isto anule os erros objetivos), eles não possuem boa vontade e seu erro material é culpável.

A heresia material por ignorância vencível (ou por consciência vencivelmente errônea) não faz com que tenham de fato Fé implícita, se podem vencer a consciência errônea que possuem. A Fé implícita nestes casos ocorre quando há consciência invencivelmente errônea, onde há a boa vontade de buscar e aderir à doutrina católica caso lhes seja anunciada devidamente (aspecto objetivo) e compreendida verdadeiramente.

Não é a heresia, o cisma, ou religião falsa que conferem a Salvação aos que erram por consciência invencivelmente errônea.

A sua boa vontade se manifesta no cumprimento da lei natural naquilo que for possível conhecer sem a Revelação e cumprir sem a Graça habitual, acompanhado da busca sincera pela verdade mesmo seguindo os ditames de sua consciência invencivelmente errônea, que ainda obriga, embora escuse de culpa enquanto permanecer invencivelmente errônea.

Portanto, herege material não é necessariamente sinônimo de herege de boa vontade. Se ele não estiver em ignorância invencível acerca do seu erro e tiver meios para conhecer a verdadeira religião, e por negligência, descuido ou desprezo pela Verdade a ignora ou se não cumpre a lei natural conhecida pela razão, não tem boa vontade, mesmo permanecendo herege material, se por este termo entendemos como alguém que não fora excomungado formalmente pela pertinácia em negar um ou mais artigos de Fé.

Fique com Deus,

Luiz Otávio Gonçalves Jr e André Abdelnor Sampaio.

Prezados, muito obrigado pela resposta.

Pude compreender melhor o pensamento dos senhores, embora creia que devam corrigir ao menos a seguinte frase: “… o hábito da fé seja exclusivo dos católicos, isso sim é conforme à doutrina da Igreja”.

Concordo com muita coisa que você falou. Mas preciso focar em alguns pontos até mesmo para a gente definir melhor a discussão. Talvez o comentário fique longo, mas prometo que é meu último comentário, pois não tenho intenção de parecer chato.

PRIMEIRO PONTO: Não creio adequado chamar de herege material uma senhorinha católica ignorante do que ensina a Igreja. Leia novamente a citação de Billot:

“Pois se for entendido pela expressão herege material alguém que, embora professando sujeição ao Magistério da Igreja em matéria de fé, contudo nega algo definido pela Igreja por não se dar conta de que era definido, ou, no mesmo diapasão, defende opinião oposta à doutrina católica, crendo erroneamente que a Igreja ensina aquela opinião, seria completamente absurdo pôr os hereges materiais fora do corpo da verdadeira Igreja; só que esse entendimento perverte totalmente o uso legítimo da expressão… pois este é um simples erro de fato concernente ao que é que a regra dita. Assim, não há lugar para heresia, nem sequer materialmente”.

Outros teólogos:

“Um católico que se engana por ignorância não é herege material; ele é membro do Corpo de Cristo… Nada semelhante é verdadeiro de um herege material, pois este está excluído da Igreja e, portanto, não é, de modo algum, membro do Corpo de Cristo”. (Pe. Michael Müller C.SS.R., The Catholic Dogma, pp. 186,7).

“A essência da heresia consiste nisso, que um cristão escolhe uma regra de fé além daquela que Cristo instituiu; a heresia é uma rebelião contra a autoridade doutrinária da Igreja Católica e se manifesta em uma recusa em acreditar em doutrinas que são declaradas pela Igreja como divinamente reveladas. Agora é evidente que, para que essa recusa possa constituir uma rebelião real e, assim, verifique a noção essencial de heresia, deve haver conhecimento anterior de que a doutrina negada é de fato ensinada pela Igreja Católica como pertencente ao depósito de fé; Não há desobediência à autoridade onde não há conhecimento de um comando ter sido emitido. Portanto, seria, como Billot sustenta, um abuso do termo qualificar de herege a um católico professo que negasse ou duvidasse de uma doutrina que ele não sabia ser parte do ensinamento dogmático da Igreja; tal pessoa não seria nem mesmo pecador ‘material’, pois não seria rebelde.” (Côn. E. J. Mahoney, The Clergy Review, 1952, vol. XXXVII, p. 459)

E aqui cito também o Prof. Carlos Nougué:

“Antes de tudo, o que emite alguma heresia ou por ignorância ou por influência de um herege, e que, porém, pela docilidade da fé ao magistério da Igreja, estaria disposto a corrigir-se se soubesse a verdade, parece-nos que simplesmente não é herético…Por isso, não nos parece conveniente chamá-los “heréticos materiais” (em contraposição a “heréticos formais”); e por isso, aliás, é que multidão de católicos nascidos já sob o magistério conciliar não pode ser dita herética de modo algum”. (Do Papa herético, pp 303-304)

SEGUNDO PONTO: O que distingue um herege material de um herege formal é o fato da negação da verdade de fé ser inocentemente para o primeiro e culposamente para o segundo: portanto, é a presença ou não de boa fé. Ambos sabem que a Igreja Católica ensina X (a senhorinha católica do exemplo anterior não sabia), mas o herege material não sabe que a Igreja Católica é a Igreja de Cristo, ao passo que o herege formal sabe. Saber que a Igreja Católica ensina tal verdade é o que constitui a pertinácia no herege. Tanto um quanto o outro são pertinazes. A presença da pertinácia não é uma demonstração de ausência de fé sobrenatural ou presença ou ausência de boa fé. Sobre isso:

“Temos defendido que a culpa ou culpabilidade, ou seja, boa ou má-fé, não entra na definição de heresia, porque a palavra “pertinaciter” não transmite necessariamente esta noção: é apenas uma forma conveniente e breve de indicar que uma pessoa conhece alguma doutrina como ensinada pela Igreja Católica e, no entanto, nega seu consentimento… As pessoas que conhecem a Igreja Católica e que, no entanto, por razões que lhes parecem boas, optam por seguir outra regra de fé, são “pertinazes”. (Côn. E. J. Mahoney, The Clergy Review, 1953, vol. XXXVIII, nº. 2, p. 102 e 103).

“E afirmo que é apenas nesta fase de nossa investigação que qualquer relevância pode ser permitida a uma consideração das circunstâncias sob as quais tantos cristãos não católicos neste país negam as doutrinas da Igreja Católica. Pode-se prontamente admitir que a maioria deles, quando negam a doutrina da Assunção (por exemplo), façam-o na convicção honesta de que a doutrina não é verdadeira e que a Igreja Católica não tem missão dada por Deus para declarar infalivelmente que isso Deus revelou isso. Se essa é sua convicção honesta, se suas bonas fides são impecáveis, são apenas pecadores materiais. Mas eles ainda são hereges, como no Cânon 731, §2,1 porque, sabendo que a Igreja Católica ensina que Deus revelou a doutrina da suposição, eles se recusam a acreditar. Eles podem estar no estado de graça, podem ser muito mais santos do que muitos católicos que acreditam na Assunção, mas são “pertinazes” no sentido de Canon 1325, §2″. (Côn. E. J. Mahoney, The Clergy Review, 1952, vol. XXXVII, p. 460)

Portanto, o camponês protestante de boa fé é um herege material (o que inclui a pertinácia), a não ser que desconheça a própria existência da Igreja Católica, o que seria um caso raríssimo.

Creio que esse linguajar seja mais adequado para tratar desses pontos.

TERCEIRO PONTO: Hereges públicos estão fora da Igreja, segundo a opinião comum dos teólogos.

“Com o termo hereges públicos designamos todos que externamente negam uma verdade (por exemplo, a Maternidade Divina de Maria) ou várias verdades de fé católica e divina, sem importar se o que nega o faz ignorante ou inocentemente (um mero herege material), ou voluntária e culposamente (um herege formal). É certo que hereges públicos e formais estão separados da Igreja. É opinião mais comum que hereges públicos e materiais estão da mesma maneira EXCLUÍDOS da Igreja”. (Mons. G. van Noort, Dogmatic Theology)

“Todos os teólogos ensinam que hereges publicamente conhecidos, ou seja, os que pertencem a uma seita heterodoxa por profissão pública, ou que rejeitam a autoridade magisterial infalível da Igreja, estão EXCLUÍDOS do corpo da Igreja, mesmo se sua heresia for apenas material.” (Adolphe Tanquerey, Manual of Dogmatic Theology)

“Os teólogos modernos fazem as seguintes distinções a respeito a não pertença à Igreja. Não são membros da Igreja os não batizados e catecúmenos, os apóstatas públicos e os hereges públicos – TANTO OS HEREGES MATERIAIS, COMO OS FORMAIS -, os cismáticos, os excomungados vitandos” (Michael Schmaus: , T.D. IV La Iglesia, p. 392, Madrid, 1960).

Observação: A fé sobrenatural pode existir sem o estado de graça nos hereges manifestos e nos não cristãos.

“pode, portanto, acontecer facilmente que creiam explicitamente em todas as verdades que são necessariamente de meio, desculpados por sua boa-fé em não acreditarem em todas as que são estritamente necessárias de preceito. Por outro lado, a graça de Deus pode facilmente levá-los A ACRESCENTAR a essa fé salutar o amor de Deus e a contrição sobrenatural que os purificará de pecados graves e garantirá sua salvação”. (Dictionaire de théologie catholique, tome Sixième, verbete Foi, 1920, p. 165)

“Com efeito, podem ter, todavia, uma verdadeira fé sobrenatural sobre Deus e outros artigos, fundada na Sagrada Escritura que eles admitem, e por isso, dessa fé passar à contrição que os justificaria e salvaria, se a fé explícita em Cristo não é necessária com necessidade de meio” (De Lugo, De fide, disp. XII, n. 50)

Portanto, está correto dizer que é possível existir fé sobrenatural fora da Igreja Católica.

O Catecismo de São Pio X inclusive diz que os não católicos, ignorantes invencíveis e caridosos, salvam-se fora da Igreja e não dentro. “Quem, encontrando-se sem culpa sua – quer dizer, em boa-fé – FORA da Igreja, tivesse recebido o batismo, ou tivesse desejo, ao menos implícito, de o receber, e além disso procurasse sinceramente a verdade e cumprisse a vontade de Deus o melhor que pudesse, ainda que separado do corpo da Igreja, estaria unido à alma d’Ela, e portanto no caminho da salvação”. (Q. 170).

Mas mesmo que se admita, como alguns autores, que o herege manifesto caridoso está dentro da Igreja, como o fez Mons. Fenton, isso não ocorre com outros tantos hereges que não estão em estado de graça, mas que também possuem a fé sobrenatural. Portanto, novamente, é possível existir fé sobrenatural fora da Igreja.

QUARTO E ÚLTIMO PONTO: Nem toda fé sobrenatural é a fé católica. Embora a diferença seja acidental, a fé católica se designa àquela fé divina que adquiriu uma forma particular de realização concreta, com um estado de perfeição superior e com um caráter social. Não se trata mais meramente de uma virtude teologal (interno), mas também de um vínculo externo e visível de unidade da Igreja, um dos três requisitos para ser membro da Igreja. Nesse sentido:

“Uma vez que a fé divina, apoiando-se em sua regra viva, a autoridade da Igreja, adquire um estado de perfeição superior, e um caráter social, e serve para unir todos os crentes em uma sociedade universal ou “católica”, nossos teólogos têm razão considerá-lo às vezes precisamente neste estado, e chamá-lo então, não apenas “fé divina” por causa de seu motivo específico que é a autoridade do testemunho divino, mas “fé divina e católica” (…) A “fé divina e católica” de que fala o Concílio chama-se abreviadamente “fé católica”. E a outra espécie moral, ou seja, a fé divina não baseada na proposição da Igreja infalível (por exemplo, a de um protestante de boa fé, ou de um pagão a quem Deus revela imediatamente as verdades necessárias para a salvação), é simplesmente chamada de “fé divina” quando se distingue da primeira”. (Dictionaire de théologie catholique, tome Sixième, verbete Foi, 1920, p. 169 e 170).

Um abraço. Fica com Deus.

Continuamos a perseverar que não há nada que corrigir nas aspas “… o hábito da fé seja exclusivo dos católicos, isso sim é conforme à doutrina da Igreja”, pelas razões apresentadas. Da mesma forma que conhecer a demonstração de uma conclusão é critério para se ter ciência; conhecer o meio para os artigos de fé é critério para a própria fé (caso contrário, só se teria opinião). Ainda aqueles que se salvam pela alma da Igreja: estes também são católicos.

Concordo com muita coisa que você falou. Mas preciso focar em alguns pontos até mesmo para a gente definir melhor a discussão. Talvez o comentário fique longo, mas prometo que é meu último comentário, pois não tenho intenção de parecer chato.

PRIMEIRO PONTO: Não creio adequado chamar de herege material uma senhorinha católica ignorante do que ensina a Igreja. Leia novamente a citação de Billot:

Concedemos ao ponto primeiro, sobre a inconveniência de “heresia material”. Com esta expressão só queríamos nos referir a uma pessoa que descresse sem pertinácia ou negligência em algum ponto de fé (como a senhora simples ou o camponês ignorante). Mas atentamos que a citação de Billot possui uma condicional: se se aceita o uso da expressão “herege material”, então eles não estão fora da Igreja. Portanto não negamos tampouco a conclusão condicional de Billot.

“Pois se for entendido pela expressão herege material alguém que, embora professando sujeição ao Magistério da Igreja em matéria de fé, contudo nega algo definido pela Igreja por não se dar conta de que era definido, ou, no mesmo diapasão, defende opinião oposta à doutrina católica, crendo erroneamente que a Igreja ensina aquela opinião, seria completamente absurdo pôr os hereges materiais fora do corpo da verdadeira Igreja; só que esse entendimento perverte totalmente o uso legítimo da expressão… pois este é um simples erro de fato concernente ao que é que a regra dita. Assim, não há lugar para heresia, nem sequer materialmente”.

Outros teólogos:

“Um católico que se engana por ignorância não é herege material; ele é membro do Corpo de Cristo… Nada semelhante é verdadeiro de um herege material, pois este está excluído da Igreja e, portanto, não é, de modo algum, membro do Corpo de Cristo”. (Pe. Michael Müller C.SS.R., The Catholic Dogma, pp. 186,7).

“A essência da heresia consiste nisso, que um cristão escolhe uma regra de fé além daquela que Cristo instituiu; a heresia é uma rebelião contra a autoridade doutrinária da Igreja Católica e se manifesta em uma recusa em acreditar em doutrinas que são declaradas pela Igreja como divinamente reveladas. Agora é evidente que, para que essa recusa possa constituir uma rebelião real e, assim, verifique a noção essencial de heresia, deve haver conhecimento anterior de que a doutrina negada é de fato ensinada pela Igreja Católica como pertencente ao depósito de fé; Não há desobediência à autoridade onde não há conhecimento de um comando ter sido emitido. Portanto, seria, como Billot sustenta, um abuso do termo qualificar de herege a um católico professo que negasse ou duvidasse de uma doutrina que ele não sabia ser parte do ensinamento dogmático da Igreja; tal pessoa não seria nem mesmo pecador ‘material’, pois não seria rebelde.” (Côn. E. J. Mahoney, The Clergy Review, 1952, vol. XXXVII, p. 459)

E aqui cito também o Prof. Carlos Nougué:

“Antes de tudo, o que emite alguma heresia ou por ignorância ou por influência de um herege, e que, porém, pela docilidade da fé ao magistério da Igreja, estaria disposto a corrigir-se se soubesse a verdade, parece-nos que simplesmente não é herético…Por isso, não nos parece conveniente chamá-los “heréticos materiais” (em contraposição a “heréticos formais”); e por isso, aliás, é que multidão de católicos nascidos já sob o magistério conciliar não pode ser dita herética de modo algum”. (Do Papa herético, pp 303-304)

SEGUNDO PONTO: O que distingue um herege material de um herege formal é o fato da negação da verdade de fé ser inocentemente para o primeiro e culposamente para o segundo: portanto, é a presença ou não de boa fé. Ambos sabem que a Igreja Católica ensina X (a senhorinha católica do exemplo anterior não sabia), mas o herege material não sabe que a Igreja Católica é a Igreja de Cristo, ao passo que o herege formal sabe. Saber que a Igreja Católica ensina tal verdade é o que constitui a pertinácia no herege. Tanto um quanto o outro são pertinazes. A presença da pertinácia não é uma demonstração de ausência de fé sobrenatural ou presença ou ausência de boa fé. Sobre isso:

A partir do segundo ponto as coisas começam a ficar confusas. Não sabemos, agora, se você adere ou não adere à afirmação do Nougué:
“Antes de tudo, o que emite alguma heresia ou por ignorância ou por influência de um herege, e que, porém, pela docilidade da fé ao magistério da Igreja, estaria disposto a corrigir-se se soubesse a verdade, parece-nos que simplesmente não é herético…Por isso, não nos parece conveniente chamá-los “heréticos materiais” (em contraposição a “heréticos formais”); e por isso, aliás, é que multidão de católicos nascidos já sob o magistério conciliar não pode ser dita herética de modo algum”. (Do Papa herético, pp 303-304)

1. Se adere, não conviria ao camponês do exemplo ser chamado de herege nem materialmente (de fato, como concordamos sobre o ponto primeiro). Aliás, pelo nosso exemplo no comentário anterior, o camponês não possui pertinácia de modo algum, pois seria católico se bem instruído. Nem na referência que você usa, o camponês do exemplo teria pertinácia, pois ele não conhece a Igreja católica: ”As pessoas que conhecem a Igreja Católica e que, no entanto, por razões que lhes parecem boas, optam por seguir outra regra de fé, são ‘pertinazes’” – não aderimos a essa definição de pertinácia.
2. Se não há adesão, passo a não compreender o uso da fala do Nougué no ponto primeiro. Assumirei que foi um uso dialético: uma fala que você não concorda, mas que o adversário concordaria, e que o levaria a aceitar alguma conclusão.
E entramos aqui em um problema de método: o citacionismo, com o Nougué já comentou aqui (https://www.facebook.com/carlos.nougue.1/posts/pfbid0UP6VhfJSknivEjJ8NVBXjnVsjR6gt7SAnHMycEaDWPyuffbqQKbcjVzo9hQGd93Zl). Apesar do número de citações, você não expôs o conceito de heresia material que você aceita. E também não aceitamos de antemão a autoridade do autor que o senhor usa neste ponto segundo, não sem antes as devidas razões.
Por exemplo, não aceitamos de modo algum o exemplo dado por Mahoney, que os protestantes, provavelmente dos EUA, que “negam a doutrina da Assunção” de modo firme, apesar de “honesto”, podem ter fé. Afinal, a resposta para o artigo 3 da questão 5 da IIa-IIæ “Se o herético que não crê num artigo de fé pode ter fé informe nos outros” é negativa. Esta questão de Santo Tomás foi basilar no nosso artigo.

Portanto, o camponês protestante de boa fé é um herege material (o que inclui a pertinácia), a não ser que desconheça a própria existência da Igreja Católica, o que seria um caso raríssimo.
“Temos defendido que a culpa ou culpabilidade, ou seja, boa ou má-fé, não entra na definição de heresia, porque a palavra “pertinaciter” não transmite necessariamente esta noção: é apenas uma forma conveniente e breve de indicar que uma pessoa conhece alguma doutrina como ensinada pela Igreja Católica e, no entanto, nega seu consentimento… As pessoas que conhecem a Igreja Católica e que, no entanto, por razões que lhes parecem boas, optam por seguir outra regra de fé, são “pertinazes”. (Côn. E. J. Mahoney, The Clergy Review, 1953, vol. XXXVIII, nº. 2, p. 102 e 103).

“E afirmo que é apenas nesta fase de nossa investigação que qualquer relevância pode ser permitida a uma consideração das circunstâncias sob as quais tantos cristãos não católicos neste país negam as doutrinas da Igreja Católica. Pode-se prontamente admitir que a maioria deles, quando negam a doutrina da Assunção (por exemplo), façam-o na convicção honesta de que a doutrina não é verdadeira e que a Igreja Católica não tem missão dada por Deus para declarar infalivelmente que isso Deus revelou isso. Se essa é sua convicção honesta, se suas bonas fides são impecáveis, são apenas pecadores materiais. Mas eles ainda são hereges, como no Cânon 731, §2,1 porque, sabendo que a Igreja Católica ensina que Deus revelou a doutrina da suposição, eles se recusam a acreditar. Eles podem estar no estado de graça, podem ser muito mais santos do que muitos católicos que acreditam na Assunção, mas são “pertinazes” no sentido de Canon 1325, §2″. (Côn. E. J. Mahoney, The Clergy Review, 1952, vol. XXXVII, p. 460)

Portanto, o camponês protestante de boa fé é um herege material (o que inclui a pertinácia), a não ser que desconheça a própria existência da Igreja Católica, o que seria um caso raríssimo.

Creio que esse linguajar seja mais adequado para tratar desses pontos.

O terceiro ponto nos é ainda mais confuso que o primeiro. Você aceita que a senhora ignorante não é uma herege material (ponto primeiro da sua resposta). Mas se ela negar publicamente, pela sua ignorância, a maternidade divina da Virgem Santíssima, ela seria uma herege pública e material (pelo ponto terceiro). Ora, pela citação de Billot, dada a concessão na conveniência do uso de heresia material, “seria completamente absurdo pôr os hereges materiais fora o corpo da verdadeira Igreja”. Por outro lado, pela citação de Mons. G. van Noort, esta senhorinha seria não só uma herege material como também estaria fora da Igreja: “É opinião mais comum que hereges públicos e materiais estão da mesma maneira EXCLUÍDOS da Igreja”.
Então até aqui nós temos duas posições distintas, respectivamente, no ponto primeiro e terceiro da sua resposta: ou inconveniência (Billot) ou conveniência (Noort) da expressão “heresia material”; dada a conveniência, o herege público e material estaria ou dentro (Billot) ou fora (Noort) da Igreja.
Quanto à observação do ponto terceiro: o herege ter fé sobrenatural é uma contradição de termos – mais uma vez, todo nosso artigo visa mostrar essa impossibilidade. Caso queira, pode argumentar a possibilidade de um herege ter fé (informe ou informada, que seja). Afinal, citação alguma argumenta por si mesma. Dessa forma, não sabemos a quem se refere De Lugo no trecho dado (podem ser a protestante ou qualquer outro tipo de heresia).
Admitimos obviamente a possibilidade de salvação nos termos do Catecismo Maior de São Pio X no ponto 172 (não 170), pela alma da Igreja, que é o Espírito Santo, que infunde a fé informada pela caridade a todos aqueles que se enquadram naqueles termos. O que não entendemos é contra o que você levanta esta citação.

Quanto ao ponto quarto: adotando a distinção feita por você, baseando-se em um verbete de um dicionário católico, a “fé católica” não deixa de ser virtude teologal. E tudo o que dissemos no texto se aplica aqui também.

“Pois se for entendido pela expressão herege material alguém que, embora professando sujeição ao Magistério da Igreja em matéria de fé, contudo nega algo definido pela Igreja por não se dar conta de que era definido, ou, no mesmo diapasão, defende opinião oposta à doutrina católica, crendo erroneamente que a Igreja ensina aquela opinião, seria completamente absurdo pôr os hereges materiais fora do corpo da verdadeira Igreja; só que esse entendimento perverte totalmente o uso legítimo da expressão… pois este é um simples erro de fato concernente ao que é que a regra dita. Assim, não há lugar para heresia, nem sequer materialmente”.

TERCEIRO PONTO: Hereges públicos estão fora da Igreja, segundo a opinião comum dos teólogos.

“Com o termo hereges públicos designamos todos que externamente negam uma verdade (por exemplo, a Maternidade Divina de Maria) ou várias verdades de fé católica e divina, sem importar se o que nega o faz ignorante ou inocentemente (um mero herege material), ou voluntária e culposamente (um herege formal). É certo que hereges públicos e formais estão separados da Igreja. É opinião mais comum que hereges públicos e materiais estão da mesma maneira EXCLUÍDOS da Igreja”. (Mons. G. van Noort, Dogmatic Theology)

“Todos os teólogos ensinam que hereges publicamente conhecidos, ou seja, os que pertencem a uma seita heterodoxa por profissão pública, ou que rejeitam a autoridade magisterial infalível da Igreja, estão EXCLUÍDOS do corpo da Igreja, mesmo se sua heresia for apenas material.” (Adolphe Tanquerey, Manual of Dogmatic Theology)

“Os teólogos modernos fazem as seguintes distinções a respeito a não pertença à Igreja. Não são membros da Igreja os não batizados e catecúmenos, os apóstatas públicos e os hereges públicos – TANTO OS HEREGES MATERIAIS, COMO OS FORMAIS -, os cismáticos, os excomungados vitandos” (Michael Schmaus: , T.D. IV La Iglesia, p. 392, Madrid, 1960).

Observação: A fé sobrenatural pode existir sem o estado de graça nos hereges manifestos e nos não cristãos.

“pode, portanto, acontecer facilmente que creiam explicitamente em todas as verdades que são necessariamente de meio, desculpados por sua boa-fé em não acreditarem em todas as que são estritamente necessárias de preceito. Por outro lado, a graça de Deus pode facilmente levá-los A ACRESCENTAR a essa fé salutar o amor de Deus e a contrição sobrenatural que os purificará de pecados graves e garantirá sua salvação”. (Dictionaire de théologie catholique, tome Sixième, verbete Foi, 1920, p. 165)

“Com efeito, podem ter, todavia, uma verdadeira fé sobrenatural sobre Deus e outros artigos, fundada na Sagrada Escritura que eles admitem, e por isso, dessa fé passar à contrição que os justificaria e salvaria, se a fé explícita em Cristo não é necessária com necessidade de meio” (De Lugo, De fide, disp. XII, n. 50)

Portanto, está correto dizer que é possível existir fé sobrenatural fora da Igreja Católica.

O Catecismo de São Pio X inclusive diz que os não católicos, ignorantes invencíveis e caridosos, salvam-se fora da Igreja e não dentro. “Quem, encontrando-se sem culpa sua – quer dizer, em boa-fé – FORA da Igreja, tivesse recebido o batismo, ou tivesse desejo, ao menos implícito, de o receber, e além disso procurasse sinceramente a verdade e cumprisse a vontade de Deus o melhor que pudesse, ainda que separado do corpo da Igreja, estaria unido à alma d’Ela, e portanto no caminho da salvação”. (Q. 170).

Mas mesmo que se admita, como alguns autores, que o herege manifesto caridoso está dentro da Igreja, como o fez Mons. Fenton, isso não ocorre com outros tantos hereges que não estão em estado de graça, mas que também possuem a fé sobrenatural. Portanto, novamente, é possível existir fé sobrenatural fora da Igreja.

QUARTO E ÚLTIMO PONTO: Nem toda fé sobrenatural é a fé católica. Embora a diferença seja acidental, a fé católica se designa àquela fé divina que adquiriu uma forma particular de realização concreta, com um estado de perfeição superior e com um caráter social. Não se trata mais meramente de uma virtude teologal (interno), mas também de um vínculo externo e visível de unidade da Igreja, um dos três requisitos para ser membro da Igreja. Nesse sentido:

“Uma vez que a fé divina, apoiando-se em sua regra viva, a autoridade da Igreja, adquire um estado de perfeição superior, e um caráter social, e serve para unir todos os crentes em uma sociedade universal ou “católica”, nossos teólogos têm razão considerá-lo às vezes precisamente neste estado, e chamá-lo então, não apenas “fé divina” por causa de seu motivo específico que é a autoridade do testemunho divino, mas “fé divina e católica” (…) A “fé divina e católica” de que fala o Concílio chama-se abreviadamente “fé católica”. E a outra espécie moral, ou seja, a fé divina não baseada na proposição da Igreja infalível (por exemplo, a de um protestante de boa fé, ou de um pagão a quem Deus revela imediatamente as verdades necessárias para a salvação), é simplesmente chamada de “fé divina” quando se distingue da primeira”. (Dictionaire de théologie catholique, tome Sixième, verbete Foi, 1920, p. 169 e 170).

Um abraço. Fica com Deus.”

E há algo também a se pontuar: Alguém que seja materialmente herege, ou que esteja em erro quanto à Fé, mas sem negá-la formalmente ou com pertinácia não é necessariamente alguém de boa vontade, se desconhece a Fé verdadeira por culpa própria. Pode sê-lo se ignora a Fé sem culpa de negligência ou descuido e se compre a lei natural, mas não necessariamente é de boa vontade se não cumpre estes requisitos, e por isto não necessariamente tem fé divina.

Quem se descuida de conhecer a verdadeira Fé tendo condições para tal não possui fé divina, ainda que não negue a Fé católica com pertinácia.

Recomendo que assista ao nosso vídeo:

https://youtu.be/BjHLsZj5zbs

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