Razões para crer que Cristo ressuscitou dos mortos

Embora os Evangelhos componham as Sagradas Escrituras e façam parte, portanto, da inerrante e infalível Palavra de Deus, são também relatos históricos dos fatos ocorridos na vida de Jesus e dos Apóstolos pois foram escritos por testemunhas oculares dos acontecimentos ali narrados ou por pessoas que conviveram diretamente com estas testemunhas. São Mateus e São João, por exemplo, eram dois dos doze apóstolos. São Marcos, por sua vez, era um dos 70 discípulos e escreveu de acordo com o que lhe narrava São Pedro, e São Lucas, discípulo de São Paulo, por fim, confessa que escreveu o seu Evangelho de acordo com o relato das demais testemunhas oculares (cf. S. Luc. I, 2). De uma forma geral, a crítica bíblica concorda com a existência histórica de cinco fatos narrados nos Evangelhos:

I) Cristo existiu.
II) Cristo foi torturado e crucificado.
III) Cristo foi sepultado.
IV) O túmulo foi encontrado vazio no terceiro dia.
V) Várias pessoas afirmaram tê-lo visto vivo em diferentes lugares e circunstâncias após seu corpo ter desaparecido do túmulo.

Entre essas pessoas, podemos citar Santa Maria Madalena (cf. Marc. XVI, 9; João XX,14-15), as mulheres que voltavam do sepulcro (Mat. XVIII,9), São Pedro (Luc. XXIV, 34), os dois discípulos de Emaús (Marc. XVI, 12; Luc. XXIV, 13), os Apóstolos reunidos no Cenáculo, na ausência de Santo Tomé, onde Nosso Senhor não só foi visto e ouvido, como também comeu com eles (Marc. XVI, 14; Luc. XXIV, 36; João XX, 19-25). Estas cinco aparições sucederam no dia de Páscoa. Oito dias mais tarde, ainda em Jerusalém, apareceu aos onze Apóstolos, estando S. Tomé presente, que foi convidado pelo Senhor a tocar as chagas das mãos e do lado (João XX, 26-29). Na Galileia, apareceu a sete discípulos no mar Tiberíades (João XXI, 1-14); depois aos onze Apóstolos num monte da Galileia (Mat. XXVIII, 16-17). Enfim, a última aparição que precedeu a Ascensão, no monte das Oliveiras, a todos os Apóstolos juntos (Luc. XXIV, 50). São Paulo também relata haver outras reivindicações de aparições de Cristo durante esse período (1 Cor. XV, 3-8). Entre elas, destaca-se a de São Tiago, primo de Jesus, que até então era incrédulo (cf. Jo VII, 5), e a para mais de 500 pessoas de uma só vez, “dos quais a maior parte ainda vive”. Segundo São Lucas, essas aparições terminaram após quarenta dias (cf. Atos I, 3).

Os racionalistas, entretanto, não admitindo a possibilidade de milagres, tentam explicar tais fatos por meio de explicações naturalistas: uns dizem que Cristo não morreu, mas apenas ficou desacordado, acordou no terceiro dia e enganou aos apóstolos dizendo haver ressuscitado; outros dizem que os apóstolos mentiram; e outros, por fim, dizem que as testemunhas simplesmente alucinaram.

A primeira “explicação” racionalista é, de todas, a mais ridícula. Mesmo considerando o improvável cenário em que Jesus tivesse acesso à melhor medicina da época, como estaria Ele andando apenas três dias depois que foi crucificado e teve os seus pés (e nervos também portanto) transpassados pelos pregos da cruz? Humanamente isso seria impossível. E mais: como Ele teria conseguido apresentar-se de tal forma capaz de convencer, já no Domingo de Páscoa, todos os apóstolos e discípulos ali presentes que havia gloriosamente ressuscitado dos mortos se humanamente ainda estaria tão evidente o seu estado desfigurado devido às torturas públicas que recebeu na Sexta-Feira Santa? Por fim, é irrazoável supor que Cristo não tivesse realmente morrido depois de ter sido submetido ao crudelíssimo processo de execução romano, que não só infligia os mais terríveis sofrimentos ao réu como também confirmava a sua morte quebrando-lhes as pernas ou transpassando-lhe com uma lança no peito, confirmação esta que se sucedeu publicamente com o próprio Cristo (cf. João XIX, 32-37). De fato, um artigo publicado no jornal científico JAMA, da maior organização médica dos Estados Unidos, enterrou completamente essa hipótese racionalista através de um artigo publicado em 21 de Março de 1986 (disponível em https://www.godandscience.org/apologetics/deathjesus.pdf).

A segunda “explicação”, historicamente mais antiga (cf. Mat. XXVIII, 15), é igualmente insustentável. Se os apóstolos desejavam convencer os judeus e pagãos mentindo que Cristo havia ressuscitado, porque afirmariam que foram mulheres as primeiras a terem constatado esse fato? Afinal o testemunho das mulheres não tinha valor algum tanto para os judeus quanto para os pagãos da época. Escrevia, por exemplo, o historiador judeu Flávio Josefo no século I: “Mas não deixe o testemunho de mulheres ser admitido, por causa da leviandade e ousadia de seu sexo” (Antiguidades, 4.8.15). Além disso, os apóstolos demonstravam ter uma profunda convicção que o que falavam era verdade ao se submeterem conjuntamente ao martírio e às mais terríveis torturas por causa de suas reinvindicações. Nenhum voltou atrás, nenhum negou o relato dos demais. Se mentiram, nada ganharam com isso senão sofrimento, dor e morte: São Pedro foi crucificado de cabeça para baixo no Vaticano (cf. Atos de Pedro, Orígenes de Alexandria, etc); São Tomé, assassinado na Índia por guardas com lanças (cf. Atos de Tomé, Santo Efrém, etc.); São Tiago Maior morreu decapitado por Herodes (cf. Atos XII, 1-2); São Tiago Menor foi apedrejado e precipitado no Templo (Cf. Flávio Josefo, Antiguidades, 20: 197: 203); São Bartolomeu foi esfolado vivo na Índia ou na Armênia, etc. É irrazoável, portanto, supor que queriam enganar os demais.

A terceira e última “explicação” é, por fim, tão absurda quanto as demais, afinal, simplesmente não é razoável a suposição de que todas as diferentes testemunhas, em ocasiões distintas e sem passar por situações de estresse físico extremo de fome e sede, tivessem um perfil mental psicologicamente propenso a ter alucinações, e muito menos, propenso a ter múltiplas alucinações multi-sensoriais em série (envolvendo visão, audição e tato). Ademais, a coerência, concordância e objetividade dos relatos de várias testemunhas diferentes contrapõem-se claramente ao caráter subjetivo que é próprio de fenômenos psíquicos como alucinações. Alucinações pressupõem também expectativa, algo que as testemunhas evidentemente não tinham depois dos fatos que se sucederam na Sexta-Feira Santa. As mulheres vão ao túmulo não porque esperavam ver ali o Senhor ressuscitado, mas para realizar as cerimônias fúnebres que se fazem para os mortos, levando aromas à sepultura do ente querido falecido, tal como fazemos atualmente colocando flores nos túmulos de nossos parentes mortos (cf. Luc. XXIV, 1; Marc. XVI, 1). Ao ver a pedra removida do túmulo, Santa Maria Madalena acredita que o corpo de Jesus fora roubado (cf. João XX, 2). Os apóstolos pensaram que estavam vendo um fantasma quando viram Jesus (cf. Luc. XXIV, 37). Mais difícil ainda fica quando consideramos que não-crentes como São Tiago, primo de Jesus, que era um judeu fervoroso e incrédulo (cf. Jo VII, 5) e, portanto, sem qualquer expectativa de ver o parente que acreditava ter sido amaldiçoado (Deut. XXI, 23) ressuscitar dos mortos, não só disse também tê-lo visto, como morreu por conta disso. E mais: se os apóstolos (que eram judeus) fossem alucinar, dificilmente alucinariam com um Jesus que viria comer e beber com eles (cf. Luc. XXIV, 41-43), mas sim com um Jesus hiper-glorioso andando sob as nuvens nos moldes do relato acerca do “Filho do Homem” previsto pelo Profeta Daniel e esperado pelos judeus que Jesus mesmo tanto falava (cf. Marcos XIV, 62; Mateus XXVI, 64; Lucas XXI, 27).

Não. Os naturalistas não conseguem explicar os fatos com suas hipóteses esdrúxulas. Tudo indica que o relato das testemunhas é sincero e real. Aquele que é visto novamente após a sua morte, de fato ressuscitou e suas reinvindicações de ser Deus feito carne são, portanto, credíveis e verdadeiras. Tendo instituído sobre a autoridade de São Pedro e de seus Sucessores uma única Igreja (cf. Mat. XVI, 18; Jo XXI, 15-19), sua Ressurreição, que prova sua missão, prova também a necessidade de sermos católicos.

RESURREXIT, SICUT DICIT, ALLELUIA!

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