Principais sofismas, rotinas e cacoetes mentais para disfarçar os erros doutrinais de Olavo de Carvalho

1. “Olavo é filósofo, não teólogo”

Esta característica está fundamentada na tese de Olavo segundo a qual “TODO julgamento emitido sobre uma filosofia desde pressupostos teológicos é fora de propósito e quase sempre errado” [1], quer pelo fato de que as duas possuiriam tipos diferentes de inteligibilidade [2], quer porque a própria filosofia de Olavo estaria numa elaboração dialética permanente e infindável, de modo que nenhuma de suas conclusões seria definitiva e formalmente defendida por ele. Sendo assim, Olavo, por ser filósofo e à medida que se expressa como tal, estaria imune à crítica de caráter teológico. Ora, já expusemos o porquê de tudo isto estar em oposição ao ensinamento da Igreja em texto anterior [3], mas convém que nos remetamos novamente ao ensinamento de Pio XII:

“Não haveria, certamente, tais desvios da verdade que deplorar se também no terreno filosófico todos olhassem com a devida reverência ao magistério da Igreja, ao qual compete, por divina instituição, não só custodiar e interpretar o depósito da verdade revelada, mas também vigiar sobre as disciplinas filosóficas para que os dogmas católicos não sofram dano algum da parte das opiniões não corretas”.

(Humani Generis, 34).

Em última análise, Olavo deprecia o valor da própria regra próxima da teologia, que é o Magistério. Ele diz que nos textos magisteriais em si não há garantia nenhuma contra as interpretações errôneas [4], mas não é assim:

“Ninguém ignora que os termos empregados, tanto no ensino da teologia como pelo próprio magistério da Igreja, para expressar tais conceitos podem ser aperfeiçoados e enriquecidos. É sabido também que a Igreja não foi sempre constante no uso dos mesmos termos. Ademais, é evidente que a Igreja não se pode ligar a qualquer efêmero sistema filosófico; entretanto, as noções e os termos que os doutores católicos, com geral aprovação, foram compondo durante o espaço de vários séculos para chegar a obter alguma inteligência do dogma não se assentam, sem dúvida, sobre bases tão escorregadias. Fundam-se realmente em princípios e noções deduzidas do verdadeiro conhecimento das coisas criadas; dedução realizada à luz da verdade revelada, que, por meio da Igreja, iluminava, como uma estrela, a mente humana. Por isso, não há que admirar terem sido algumas dessas noções não só empregadas mas também sancionadas por concílios ecumênicos; de sorte que não é lícito apartar-se delas.

Abandonar, pois, ou repelir, ou negar valor a tantas e tão importantes noções e expressões que homens de talento e santidade não comuns, com esforço multissecular, sob a vigilância do sagrado magistério e com a luz e guia do Espírito Santo, conceberam, expressaram e aperfeiçoaram para exprimir as verdades da fé cada vez com maior exatidão, e substituí-las por noções hipotéticas e expressões flutuantes e vagas de uma filosofia moderna que, assim como a flor do campo, hoje existe e amanhã cairá, não só é de suma imprudência, mas também converte o dogma numa cana agitada pelo vento.”

(Pio XII, “Humani Generis”, 16-17).

Ou seja: as definições dogmáticas contém em si mesmas noções e princípios que garantem seu sentido original, tanto mais quanto são oficialmente proferidas em latim, língua morta. Se as definições dogmáticas são tão passíveis assim de ser adulteradas, não faz sentido algum falar em infalibilidade papal; infalibilidade que Olavo desdenha [5] e que tem por objeto essas mesmas formulações VERBAIS pronunciadas ex cathedra: “Romanum Pontificem, cum ex cathedra LOQUITUR, etc.” (Concílio Vaticano I). Voltaremos a tratar do valor do Magistério para Olavo quando da exposição da última característica.

Todo pensador que se diga católico, versado em matérias de ciências humanas que estabelecem conexão íntima com a Revelação, toma a Verdade Revelada e as verdades naturais conexas com a Revelação como REGRA E BALIZA DO SEU OPERAR INTELECTUAL. Se não faz isto, desvia-se da Fé, por negar seus preâmbulos e, consequentemente, por negar ou distorcer o próprio conteúdo da Fé.

2. “Santo Tomás baseou sua filosofia na de um pagão, logo não precisamos ler apenas filosofia católica”

Entretanto, Olavo não se apresenta como pagão, mas como católico. Se é assim, ele está submetido às obrigações descritas na resposta anterior, tanto mais pelo fato de o objeto secundário do Magistério Eclesiástico (as verdades naturais conexas à Revelação) ter entre suas teses algumas de caráter filosófico.

3. “Olavo já reconheceu não ser um católico exemplar, e por isso não se deve esperar dele que seja um santo, enquanto seus detratores são “santarrões” que se acham mais santos que os outros”

Este sofisma também é fruto de um dos erros de Olavo que denunciamos no texto anterior: confundem-se os pecados contra a fé com os pecados contra a caridade [6]. Na verdade, o que exigimos de Olavo é retidão em matéria doutrinal, que não distingue os mais santos dos menos santos, e sim os católicos dos não católicos. Quem insiste na Doutrina em meio ao turbilhão de heterodoxia que hoje nos rodeia não está querendo mostrar-se mais santo do que ninguém, mas antes simplesmente continuar a ter o mínimo necessário para permanecer na própria Igreja. RETIDÃO DOUTRINAL É O MÍNIMO PARA QUE ALGUÉM SEJA CONSIDERADO CATÓLICO, e não para que seja considerado um santo.

Vale certo escrito, exposto aproximadamente aqui: “Há pessoas ‘ascéticas’, conhecedoras de muitas coisas e que até possuem alguma virtude natural e alta competência em certos âmbitos, que não estão na fé (algumas delas inclusive trabalham contra a fé). Por outro lado, há pessoas ignorantes de muitas coisas, nada ascéticas e cheias de problemas de ordem moral que creem verdadeiramente, lutam o bom combate, se arrependem dos seus pecados, frequentam os sacramentos e não tentam moldar as verdades de fé às suas próprias conveniências”.

O “católico exemplar” que os católicos fiéis não veem em Olavo de Carvalho (e por isso o criticam) NÃO é o modelo de ascetismo e moralidade do qual ele finge ser cobrado para se esquivar, deixando tal tarefa para os “santarrões hipócritas” que ele nos acusa de ser. Não! O “católico exemplar” que não se vê em Olavo de Carvalho é este mencionado que, apesar de eventuais problemas morais graves, “não tenta moldar as verdades de fé às suas próprias conveniências”, como ele faz e muito!

4. “Olavo atrai muitas pessoas para a Igreja”

Um sem-número de movimentos heterodoxos, como a Renovação Carismática ou a Comunhão e Libertação, faz o mesmo, sem deixarem de ser heterodoxos por isso. Aproximar-se de ambientes eclesiásticos não significa necessariamente uma conversão. Quem frequenta meios católicos, mas está cheio de problemas e distorções doutrinais, noções falsas e confusas, e que atribui tais noções às teses de alguém como “razão de sua conversão”, não está convertido. Frequentar ambientes certos pelas razões erradas, ou contendo noções erradas em matéria doutrinal, não é sinal de conversão, mas de confusão. Todo católico minimamente educado, e verdadeiramente convertido, deve chegar à conclusão de que as teses de Olavo são incompatíveis com a Doutrina Católica, ao tomar conhecimento delas.

5. “Não podemos acusá-lo de ser formalmente herege”

Não é o tipo de juízo que pretendemos fazer. O que nos interessa é saber se há teses defendidas por ele que sejam OBJETIVAMENTE incompatíveis com o ensinamento da Igreja. Não pretendemos lançar excomunhões sobre ninguém, como Olavo já fez ao menos contra um bispo [7], pretendendo recentemente destronar até o Papa [8].

6. “O que se diz em redes sociais ou em programas de rádio não é passível de juízos desse tipo. É preciso considerar seus cursos e obras filosóficas para compreender o verdadeiro sentido de suas palavras. Não julgue Olavo por uma régua diminuta”

Em primeiro lugar, trata-se de um sofisma, pois não é necessário ler as opera omnia de um autor para julgar certas sentenças que ele expressa contra a Doutrina de maneira evidente [9], sobretudo quando ele destina tais sentenças ao público geral, que, em sua maioria, não tem acesso à suposta “filosofia” dele. Mas, ainda que concedamos, sem admitir, tal tese, aonde chegaríamos depois de todo o percurso? À conclusão de que a filosofia não deve ser teologicamente julgada e que foi tudo em vão? Se, nas redes sociais, ele diz que “TODO julgamento emitido sobre uma filosofia desde pressupostos teológicos é fora de propósito e quase sempre errado”, alguém que desconfiasse da heterodoxia de tal tese deveria perscrutar a filosofia de Olavo para ver se ela eventualmente contraria seu sentido natural e se harmoniza com o ensinamento da Igreja; ou deveria desistir de tal intento seguindo o conselho do próprio Olavo, julgando estritamente o que é dito na rede social? Estamos em plena estimulação contraditória.

7. “Olavo faz mais do que você”

Isso também é irrelevante. O problema é se há teses que ele defende que sejam incompatíveis com a Doutrina Católica. Levar a questão para o lado pessoal é desonesto. Permaneçamos no campo das ideias. Acrescenta-se que virtudes naturais são importantes e necessárias, mas não são suficientes para a salvação, pois esta só é possível pela posse das virtudes teologais, dons gratuitos de Deus, sendo a primeira delas a Fé. A virtude teologal da Fé possui um objeto lógico-proposicional, que é justamente aquele que Olavo nega que haja, e, por consequência, acaba por contrariar certas proposições constituintes do depósito da Fé, maculando-a, já que a seus artigos se deve assentir de modo íntegro, conforme sua própria natureza de conteúdo proveniente da Verdade Primeira, que não pode nos enganar, nem se enganar. Sem Fé sobrenatural verdadeira, conforme ensina a DOUTRINA CATÓLICA, não é possível haver Esperança, nem Caridade sobrenatural, condição para que alguém seja salvo. Sem Caridade, que é a forma de todas as virtudes, estas permanecem frágeis, sem completude, e nunca serão exercidas de modo suficiente e pleno conforme os próprios imperativos naturais, muito menos poderão ser elevados à ordem sobrenatural, se não for pela Graça, que se recebe indispensavelmente pelo batismo e pela Fé. Portanto, se há erro contra a Fé, impede-se, ainda que materialmente, o florescimento da Caridade, e por isto não serve de nada alegar supostas virtudes ou competências naturais que Olavo venha a ter como critério de catolicidade, se ele comete erros manifestos contra a Fé.

8. “Você está preso à doutrina. O cristianismo não é uma doutrina”

No texto anterior já citado, explicamos que Olavo rejeita a ideia de que o objeto da fé seja também uma Doutrina, constituída de proposições conceituais [10]. As verdades da fé teriam apenas caráter ontológico e não lógico. Olavo, ao tentar se explicar, acabou confirmando o que denunciamos, pois afirmou que a Doutrina da Igreja seria uma “premissa fundante” de suas análises, mas que o conteúdo de tal Doutrina seria a realidade mesma, criação divina em contraposição a uma “doutrina” (entre aspas e com “d” minúsculo), que seria criação humana [11]. Se a Doutrina se identifica com a realidade, competiria a Olavo, enquanto filósofo, interpretá-la e investigá-la livre e independentemente em relação ao conteúdo do que ele chama de “doutrina”, “criação humana”, a saber: as proposições do Magistério. Tudo isso se coaduna com afirmações mais antigas dele: “A doutrina cristã é um negócio que começou a existir muito tempo depois” [12] e “’A filosofia é serva da teologia’ não no sentido de que uma teoria superior subordina uma inferior, mas no sentido de que a revelação cristã NÃO É uma teoria e sim uma realidade, um FATO, e de que contra fatos não há teorias” [13]. Daí ele se considerar imune à crítica teológica, se por isso compreendemos a comparação lógica entre as proposições dele e as do Magistério. Olavo previne seus alunos contra o meio mais seguro de demonstrar que ele está errado: recorrer ao ensinamento da Igreja, ao que ele chama de “doutrina”. O que nos resta é abraçar aquilo que o próprio Olavo execra na escolástica: aquela insistência no caráter lógico da Doutrina que ele chama pejorativamente de “reino da tagarelice” [14].

O olavismo é veneno para as almas, desvia as pessoas da verdadeira Fé, gerando falsas conversões, e portanto, um catolicismo-fake.

[1] https://www.facebook.com/olavo.decarvalho/posts/10154505622427192

[2] https://www.facebook.com/olavo.decarvalho/posts/10154497422407192

[3] Veja-se o item número 4 no texto “Sete motivos pelos quais nenhum católico deve seguir Olavo de Carvalho”.

[4] https://www.facebook.com/698992191/posts/10152233138507192/

[5] Escreve Olavo num antigo artigo que foi republicado no tal livro dos idiotas:
“E quando em pleno século XIX o papa já assediado de contestações dentro da Igreja mesma proclama sua própria infalibilidade em matéria de moral e doutrina, isto não deixa de ser talvez uma compensação psicológica inconsciente para a sua renitente falibilidade em matéria econômica e política”.
http://old.olavodecarvalho.org/…/capitalismoecristianismo.h…

[6] Conforme item número 6 do texto supracitado.

[7] Por mais que tenhamos divergências seríssimas em relação a D. Odilo Scherer, não se pode admitir o tipo de ataque abaixo:
https://www.facebook.com/olavo.decarvalho/posts/10153222512492192

[8] https://twitter.com/opropriolavo/status/1177953122637041671

[9] Como é o caso da tese segundo a qual a fidelidade matrimonial não seria um direito dos cônjuges:
https://www.facebook.com/olavo.decarvalho/posts/10155176181817192

[10] Este erro de Olavo está explicado em detalhes no item 2 do texto “Sete motivos pelos quais nenhum católico deve seguir Olavo de Carvalho” e em suas respectivas notas.

[11] https://www.facebook.com/698992191/posts/10157906958392192/?d=n

[12] https://www.youtube.com/watch?v=hGa2P82W4Mo

[13] https://www.facebook.com/698992191/posts/10152242515767192

[14] https://drive.google.com/open…

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