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Dois Papas (2019) – Análise do filme

O novo filme de Fernando Meirelles, aclamado diretor de ‘Cidade de Deus’ (2002), atualmente é um dos BRs mais conhecidos além-mar. Após ganhar notoriedade com o filme da famosa favela do Rio de Janeiro que entrou em listas top 100 de filmes de todos os tempos pela Empire e BBC [por exemplo], mas depois disso o diretor perdeu a mão… Após alguns trabalhos relevantes para atual crítica cinematográfica como ‘O jardineiro fiel’ (2005) ou ‘Ensaio sobre a cegueira’ (2008) que renderam até alguns prêmios naqueles festivais internacionais esnobes, porém, passou longe do grande público que foi gerado em seu longa de 2002.

Nesse ‘Dois papas’, desde a abertura [estampada ‘baseado em fatos reais’ ou seria ‘piada de mau gosto’?] até os créditos do cast, o montador Fernando Stutz (nova aposta de Meirelles, depois de lançar o talentoso Daniel Rezende, que agora é diretor prestigiado) querendo mostrar serviço em sua decupagem perigosa – pois quanto mais a mentira se aproximar da verdade mais ela engana – portanto eis a periculosidade desta produção: vender uma mentira. Como uma boa falácia, Stutz envolveu uma textura de som complexa, com intuito de capturar o espectador e facilitar sua imersão nos ambientes filmados: Inglaterra, Itália, Argentina e Estados Unidos para simularem o Vaticano. Felizmente não foi possível, em última hora, finalizar a mixagem de som binaural. Mas conseguiram finalizar [talvez a cargo de Bryce Dessner] algumas tiradas ambivalentes, como a sarcasmo musical de ‘Dancing Queen’ (Abba) para a entrada dos cardeais em uma procissão solene.

Sinceramente, as atuações pernósticas de Anthony Hopkins (um Bento XVI de um universo paralelo) e Jonathan Pryce (péssima alegoria de Francisco) tentam contrafazer com todo empenho um “por trás dos muros do Vaticano”, o “conservador” [?] Papa “Bento XVI” e o futuro “reformador” Papa Francisco devem encontrar um terreno comum para criar um “novo caminho” para uma “reforma” na Igreja Católica [desculpem-me tantas aspas ¬¬]. As pseudo-conversas entre os dois é digna de uma pessoa que tentou conhecer a Igreja de Cristo à luz da Wikipedia [ou seria da Desciclopédia]. Aquela retórica usada é puro luteranismo barato já refutado há saecula saeculorum [no filme há mais latim barato que este]. É colocado um Papa “Francisco” que tem resposta para tudo que “Bento XVI” comenta, menos réplica a acusação ridícula de nazista deflagrada a Papa alemão por um figurante.

A atuação exagerada de Hopkins (tem uma imagem dele comendo uma pizza que é triste de ver) tentando imprimir um Papa “Bento XVI” insensível, sem formação (como ele poderia dar uma aula a cada retórica criada para Pryce pronunciar), sem amigos, exibido, tolo, entre outros… É desrespeitoso até para um católico pouco esclarecido de sua Igreja. A falta de informação da produção do filme para retratarem um bispo de casula, após uma missa, passeando pela rua, debaixo de um sol quente chega a ser cômica. Sem contar com o desdém com a suposta “noite escura da alma” – tão bem esclarecida pelo padroeiro do nosso Centro, São João da Cruz – e ainda a falta de catolicidade da “voz de Deus” nas quais “Papa Bento XVI” estava passando antes de sua renúncia, provam que o sujeito que escreveu as linhas do roteiro não fazia ideia do que estava fazendo. Apenas repetindo as ideias falaciosas que eles fazem da Igreja. Se algum católico gostar de algumas destas indiretas, precisa urgentemente do catecismo de São Pio X [#FicaAdica].

Terrivelmente tentam rotular o Papa Bento XVI como acobertador de casos de pedofilia. Sem ao menos relatar que no momento de sua ascensão ao posto, já tinha uma lista enorme de padre e bispos que deveriam ser afastados imediatamente por suspeita de casos que tanto trazem sofrimento. Logicamente, o filme nem comenta as denúncias do arcebispo Carlo Maria Viganò, ex-núncio apostólico nos Estados Unidos, pedindo a renúncia do Papa Francisco, porque este não teria respeitado as supostas “sanções canônicas” que o Papa Bento XVI havia emitido contra um ex-cardeal McCarrick. Não, mesmo. No filme “Papa Bento XVI” estava louco para ganhar como papa e “Papa Francisco” não passa de um cordeiro-herói que será sacrificado, que irá “reformar” a Igreja que “só constrói muros, ao contrário de Cristo”. O que um produtor de arte contemporânea com conhecimento rasteiro faz nos tempos de hoje? Segue a fórmula explorada exaustivamente pelo [péssimo autor] Dan Brown: atacar a Santa Igreja, mirando em algum assunto que o grande público não domine. Deste ponto de vista Fernando Meirelles faz pior, uma vez que segue ideais do materialismo dialético, critica a Igreja em assuntos nos quais esta sempre foi exemplo, para muito lucrar. Para o seu falacioso mundo, o importante é surfar na onda dos assuntos capitalizáveis, mesmo que isso seja contraditório.

Apoiado pelo controverso roteirista Anthony McCarten – autor dos fracos ‘A teoria de tudo’ (2014) [sim, porque não?] e ‘O destino de uma nação’ (2017) – o diretor Meirelles cai no tremendo abismo de equívocos que foi seguido pela franquia ‘O poderoso chefão’ que começou em 1972 (adaptação de Francis Coppola para o romance de Mario Puzo – The Godfather) que demonstrava entender tudo de máfia, porém, conhecimento abissalmente negativo em matéria de Igreja Católica. Ou seja, é desconfortante, beirando uma tortura voluntária assistir aos ‘Dois papas’ e ‘O poderoso chefão parte 3’ até o final.

Para bom entendedor, meia palavra dos “críticos” que elogiam produções como estas basta para constatar a “cultura” rasa e conhecimento eclesiástico duvidoso que paira sobre as mentes dos ditos “avaliadores de conteúdo artístico”. Chegando a causar náuseas a tentativa de ver o que escrevem e/ou falam de produções como este longa da plataforma streaming. Mais lamentável ainda é notar que o mundo padece de uma mídia que faça uma análise honesta sobre a Igreja que tanto deu arte de boa qualidade. Aliás, arte boa é pleonasmo – embora concepção olvidada ultimamente – e por este simples conceito, não podemos declarar que tal produção é boa: a arte é um vetor para o bem. Afirmar tal obviedade numa era em que o relativismo abrange todas as produções artísticas, reduzindo-as a mero discurso, vai soar grotesco para os que não conseguiram superar a formação martelada no [des]construtivismo cego. Mais perverso ainda é saber que esta intencionalidade da projeção de egos dos produtores deste longa vai ser disseminada em dezenas de festivais em 2020 e [pasmem] já faturaram alguns prêmios. Até mesmo a boa técnica, do diretor de fotografia uruguaio César Charlone, não foi repetida – como em ‘Ensaio sobre a cegueira’ (2008) – ficou apenas na tentativa de empurrar esta mentirada. Há momentos que a fotografia está estourada! Lógico que o esquecimento do “bater o branco” foi proposital [muitos poderão torcer o bico] ou ainda uma questão de abordagem da direção.

Todavia não se pode negar que objetivamente não foi uma decisão acertada. Não foi por falta de cenários e oportunidades que a fotografia deixou a desejar, principalmente o frustrado decalque deste conto fictício sobre as imagens de noticiários do Vaticano [como sutil diferença de fotografia no final entre as imagens do encontro dos dois Papas (de verdade) e desta obra totalmente ficcional].O único momento de criatividade que se salva é na altura dos créditos finais [é sério]. Os dois papas assistindo a uma final de copa do mundo transmitida do Maracanã. Poderiam ter feito um curta-metragem daquilo e pouparíamos 2 horas de nossas existências. Pois a desonestidade intelectual deste selo anticristão [sim, a Netflix] começa em atribuir como baseados em ‘fatos reais’, sendo mais justo atribuir outros nomes aos personagens e retirar tal atribuição inicial. Quando produzimos um material artístico que possui uma dimensão espiritual, o resultado é como se tirássemos um raio-x da alma. Sim, mas o que é mostrado nesta radiografia? Um agnosticismo debochado de seu diretor.

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