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O fundamento doutrinal da Realeza de Cristo

“O Reinado Social de Jesus Cristo não é um mero costume, uma mera festa, está longe de ser uma mera “metáfora”, sem consequências práticas e apostólicas. É uma realidade espiritual fundamental a ser observada de forma indispensável.”

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Nosso Senhor Jesus Cristo, o Verbo de Deus, por Quem foram feitas todas as coisas, ao criar o homem, desde o início lhe havia conferido um destino sobrenatural. É fato que lhe havia dito para sujeitar a terra e exercer seu domínio “sobre os peixes do mar e sobre as aves do céu, e sobre todos os animais que se movem sobre a terra”, como se atesta no Gênesis. Porém, todos esses objetivos naturais foram pensados por Deus como fins intermediários que se destinariam essencialmente a um Fim Último, que não é outro senão Deus mesmo.

Mesmo com a entrada do pecado no mundo e a consequente perda do estado de justiça original, Deus, em Sua Infinita Sabedoria e Misericórdia, para livrar-nos de nossa miséria e de nosso terrível destino, fez-Se Carne e habitou entre nós, remiu nossos pecados mediante Sua Dolorosa Paixão na Cruz, e nos justificou diante do Pai, mas não apenas isso: mediante Sua Paixão, Morte e Ressurreição, Cristo funda a Igreja Católica e abre novamente para nós o caminho de união com Deus pela instituição dos sacramentos, que são canais da Graça Divina operados materialmente, para assim podermos seguramente participar de Sua Natureza, herdar o Reino de um Pai Amorosíssimo e obter plenamente a filiação Divina.

Nosso Senhor é, então, Verdadeiro Rei. Rei por direito de natureza, pois sendo Cristo de condição Divina, Uno em Divindade com o Pai e o Espírito Santo, possui governo sobre o mundo, domínio supremo sobre todas as criaturas, que por Ele foram feitas e Para Ele se destinam. Ele é Rei com pleno direito de todas as atividades próprias do homem, por meio de Sua União Hipostática presente pela Sua Encarnação. Cristo é Verdadeiro Deus e Verdadeiro Homem; todos os atos realizados por Sua Humanidade Santíssima ordenam-se à Sua Divindade e assim adquirem valor infinito, santificando e possibilitando a santificação – mediante o exemplo e operação de Sua Graça – de todos os atos humanos feitos n’Ele, com Ele e por Ele. Por conseguinte, toda situação concreta adquire sentido Redentor quando feita em Cristo, com reta intenção, para a Glória de Deus e Salvação das almas.

Ele é Rei por direito adquirido mediante o resgate do gênero humano, pago com Seu Preciosíssimo Sangue redentor, que salvou a humanidade do pecado e da morte eterna. Só n’Ele há verdadeira Vida, perdão dos pecados e ressurreição; n’Ele, Mestre e Rei dos indivíduos, das famílias, das nações, Rei do Universo. Como ensina o Papa Pio XI, na encíclica Quas Primas, a realeza de Cristo manifesta um triplo poder: Judiciário, Executivo e Legislativo. Realeza de natureza espiritual e temporal, sendo a segunda um reflexo da primeira e essencialmente subordinada à primeira, que constitui a parte principal Seu reinado.

O Reinado Social de Jesus Cristo não é um mero costume, uma mera festa, está longe de ser uma mera “metáfora”, sem consequências práticas e apostólicas. É uma realidade espiritual fundamental a ser observada de forma indispensável. Quis Deus a cooperação do homem para n’Ele tudo instaurar, participando de Sua missão salvífica e disseminando seus abundantes frutos em todos os cantos da Terra. Assim ensina a Doutrina Infalível da Santa Madre Igreja.

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É próprio que no Calendário litúrgico Tridentino que o Dia oficial de Cristo Rei seja realmente no último domingo de Outubro e não no último dia do ano litúrgico, para enfatizar a realidade de que o Reino de Deus é eminentemente espiritual, porém possui uma dimensão verdadeiramente temporal, que se subordina essencialmente à dimensão Eterna, ao contrário da falsa noção modernista que pensa o Reino de Cristo apenas na sua dimensão escatológica, renegando a Realeza de Nosso Senhor sobre todas as realidades da esfera civil, temporal, e realizando uma daninha distinção entre “Reino de Deus” e “Igreja”, tratando o primeiro como algo meramente escatológico e a segunda como algo meramente temporal.

É fácil dizer que se oferece Incenso a Cristo, reconhecendo, em esfera privada Sua Divindade. Afinal, o Arianismo não é mais vigente entre nós. É fácil dizer que se oferece Mirra a Cristo, reconhecendo em esfera privada sua Humanidade, pois o monofisismo, monotelismo, e apolinarismo não são mais vigentes entre nós.

Senhores, a nota distintiva dos filhos de Deus neste tempo de constantes tentativas de completa destruição da Fé pela heresia modernista que se infiltrou em grande parte no seio da Igreja, é o oferecimento(com palavras e obras) do Ouro a Cristo, próprio de um Rei. E Rei Divino. Sem o Ouro, é apenas uma questão de tempo até que se deixe de oferecer incenso e mirra.

Foi o reconhecimento e proclamação de Cristo Rei que moveu o coração do bom ladrão. Ao ver o Deus-Homem do seu lado, naquele estado, monstruosamente ferido, reconheceu-Lhe como Rei… E obteve naquele momento o Batismo de desejo, pedindo que o Verbo Divino lembrasse dele em Seu Reino. A confissão da Realeza de Cristo é o atestado de sua metanoia.

Quem nega a doutrina da Realeza Social de Jesus Cristo, diluindo e deformando o seu conteúdo, para obter um “Cristianismo sub-reptício, de contrabando”, de bandeira equívoca, de atitude pacifista com o mundo e suas modas; quem busca a todo custo conciliar com os erros modernos, num espírito de rendição covarde e mesmo reverencial aos falsos direitos dos homens que excluem os direitos de Deus, odeia a Jesus Cristo e a Igreja. Quem nega de modo obstinado e após ser suficientemente esclarecido, a doutrina da Realeza Social de Jesus Cristo sobre os estados e nações têm por guia o próprio satanás, pois é a ele que está a emular, quando se pega trechos da própria Escritura de modo recortado e costurado com o intuito de macular seu verdadeiro significado que o Magistério infalível(regra próxima da Fé) da Igreja lhe confere…

Como ensina Santo Tomás de Aquino, Doutor Comum da Igreja, no seu Comentário às Sentenças de Pedro Lombardo, IV, dist. 49, q. 1, art. 2:

“A expressão “Reino de Deus” se entende, por antonomásia, de duas maneiras: ou como a congregação dos que caminham na Fé, e assim se diz que o Reino de Deus é a Igreja militante; ou, de outra forma, como o consórcio daqueles que já estão fixados no fim [os bem-aventurados], e assim se diz que o Reino de Deus é a Igreja triunfante”.

Da Sã Doutrina, tira-se os seguintes princípios:

  • 1. Não há separação entre Reino de Deus e Igreja, apenas distinção entre suas modalidades e formas de atuação. Mas sempre existirá a identificação entre Reino de Deus e Igreja, seja em seu modo de Igreja Militante(aqui na Terra, dos que lutam para desenvolver a vida sobrenatural e alcançar a salvação eterna), Padecente(no purgatório) e Triunfante(No Céu dos bem-aventurados).
  • 2. Deve haver uma subordinação essencial entre as realidades temporais para a ordem espiritual, sem haver jamais uma confusão entre as competências dos dois campos, mas uma síntese de tal modo que  as realidades exteriores e temporais sejam de fato e de direto, um testemunho da vida Graça e ao mesmo tempo um instrumento que favoreça a sua eficácia, dispondo todas as realidades naturais e terrenas para que recebem o influxo da Graça comunicado pelos sacramentos administrados pelo Clero e pela vida de piedade dos fiéis, e santifiquem todas as pessoas em todos os ambientes e realize a configuração católica da sociedade. Sem jamais perder de vista que o o termo último do Reino de Deus é transcendente e portanto, eterno. Inicia-se sobre este mundo, com a Fundação da Igreja, e se consuma plenamente no Céu.
  • 3. Tal realidade não deve ter uma dimensão meramente privada, mas sim pública, não somente de fato, mas de direito, de princípio. Cristo não é Rei apenas das sacristias, mas Rei de tudo. Sua Realeza é oniabrangente, universal. Realeza esta que se dá a Triplo-Título, como está claramente expressa na encíclica Quas Primas, de Pio XI:

A) por Geração Eterna, pois Cristo é o Verbo Divino, da Mesma Natureza do Pai, gerado Eternamente de Sua Substância Divina Simplíssima. Todo o Poder do Pai é do Filho. Por Ele foram feitas todas as coisas, para manifestar sua Glória.

B) Por União Hipostática, pois o Verbo Divino se fez Carne e habitou entre nós. Santificou todas as realidades humanas concretas, deu-nos a possibilidade de realizar toda e qualquer atividade honesta sob a espécie da eternidade, se fizermos em comum união com Cristo, Verbo Divino Encarnado.

C) Por Redenção, já que Cristo resgatou o gênero humano do Inferno, do pecado e da morte, por Seu Santo Sacrifício na Cruz, nos justificou diante de Deus, com o preço do seu Preciosíssimo Sangue. É Rei e Senhor. Atrai todos para Si. Fez-nos partícipes de Sua Vida, por Seus Méritos Infinitos oriundos de Sua Condição Divina, e comunicados até nós por Sua Santíssima Humanidade. É o Verdadeiro Deus-Homem, que Vive, Reina e Impera.

A Cidade quando não está essencialmente ordenada para a Lei de Cristo, impede que a Graça opere de modo profícuo em todos os ambientes, é assim menos pessoas se salvam. Quanto maior for a operação da Graça em nossos corações e em todas as instâncias da vida em sociedade, maior será a inchoatio de Glória no Céu. E é isto a Realeza Social de Jesus Cristo, no tempo presente, seria buscar a ordenação da melhor forma possível, de que todas as esferas terrenas sejam testemunhos instrumento da vida da Graça para que no Céu se torne em glória dos bem-aventurados (consumação do Reino de Deus). O Reino de Deus não se consuma neste mundo, mas já se dá sobre este mundo, pela Igreja e sua ação Salvífica. A Igreja é o Reino de Deus Vivo na história que se realiza definitivamente no Céu.

Vive-se num tempo de crise espiritual grave. O pecado faz-se institucionalizado como nunca antes. Há mais ou menos três séculos que os inimigos da Cruz realizam um trabalho sem descanso de expulsão de Deus da vida pública. Quase todas as instâncias da vida em sociedade andam arquitetadas para afastar o homem do seu Criador, a fim de que este perca sua alma, não permitindo o influxo da Graça pela ausência de reta disposição das realidades naturais de acordo com o fim último sobrenatural para o qual foi o homem criado por Deus. A defesa da Fé na esfera temporal nunca se fez tão urgente e necessária num tempo em que o florescimento humano na sua integralidade se vê interditado pelo neopaganismo, por um laicismo ora camuflado, ora evidente, pelas ideologias liberais, coletivistas e materialistas, que não fazem outra coisa senão criar caricaturas da realidade, uma falsa noção do homem e ficções sociais que visam apenas distanciá-lo da busca de seus legítimos fins e, portanto, de sua verdadeira felicidade.

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O falso Catolicismo liberal, na ânsia de agradar aos homens mais do que a Deus dispõe a oferecer incenso e mirra, mas odeia oferecer o Ouro. E é na oferta deste último, que se constata a veracidade da oferta sincera dos dois primeiros. Este é o “católico” liberal, que busca conciliar o humanismo naturalista com a cosmovisão católica. Duas posições radicalmente antagônicas e irredutíveis.

O amor do “católico” liberal pela Igreja é fake. Ele a ama na medida em que ela não o constrange diante de um mundo que zomba na Cruz do Salvador.

O liberal que se quer “católico” é um esquizofrênico existencial. Trata a Fé como um idealismo, e não como uma virtude teologal, com consequências objetivas bem concretas e operativas na realidade. Por trás de “sãs laicidades; reta autonomia das realidades temporais; aconfessionalismo como eficácia apostólica”, há o mesmo non-serviam enrustido. E é este o mais pernicioso. Que trai o Filho do Homem enquanto O oscula.

Para os nossos tempos, e até o fim, esta será a nota distintiva dos filhos de Deus: a defesa do Reinado Social de Jesus Cristo com nossa vida (em busca da santidade) e testemunho (professando a Verdadeira Fé até a morte). Não há meio termo. Ou estamos sob o estandarte de Cristo Rei, ou seremos pastos de demônios santarrões, como disse um douto sacerdote. Sempre somos servos. Ou servimos ao que nos é realmente superior e somos livres, ou servimos ao que nos é inferior (o demônio nos é inferior em Graça, pois rejeitou a Graça de Deus e não participa de Sua Vida, embora seja superior aos homens em natureza) e nos conspurcamos.

É necessário adquirir anticorpos intelectuais, sociais e espirituais, e somente ao realizar este objetivo, estar-se-á preparado para enfrentar esta corrente de apostasia e impiedade, combatendo as máximas mundanas, da carne e do demônio que são radicalmente opostas às máximas eternas.

A instauração da Realeza Social de Nosso Senhor, removendo as estruturas de pecado e substituindo por estruturas de virtudes humanas e teologais, conferindo sentido de eternidade aos diversos bens humanos na esfera temporal e civil, ordenando-os sempre ao Bem Supremo, é uma atividade de fundamental importância para os leigos, que por definição estão em contato mais próximo e direto com as atividades da vida civil, sendo esta a missão específica e insubstituível dada a estes por Nosso Senhor: fermentar na ordem temporal a substância da Doutrina de Cristo, fazendo com que toda e qualquer atividade honesta seja essencialmente elevada ao patamar da Graça. Tal missão, é o máximo de beatitude que se pode ter já nesta vida, que será vivida na medida do possível como uma incoatio da Glória no Céu.

Que esta consideração penetre agudamente em nosso intelecto e dilate até nosso coração: Cristo é Aquele cujo o servir é reinar.

Não há liberdade, florescimento verdadeiro fora da Realeza oniabrangente de Cristo sobre indivíduos, família, estados e nações. Sobre tudo e todos.

Viva Cristo Rei!

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