por Matheus Oliveira
Num dia como hoje, em 1896, nasceu Gustavo Corção Braga. Celebramos os cento e vinte e cinco anos do escritor carioca, pois apreciamos com paixão o legado literário, o zelo apostólico, o olhar clínico da alma e do mundo que se encontra em suas páginas imortais. Mas quem somos nós? Católicos, provavelmente; conservadores para os padrões atuais; entusiastas de literatura, talvez e olhe lá; mas certamente somos um aglomerado minúsculo de indivíduos que não raro entram em atrito com a loucura irracional do nosso tempo. Somos uma minoria numérica mesmo entre católicos; uma minoria sem lobby político, sem poder econômico, sem força nas instituições. Daí que Corção, mesmo com uma profusão de qualidades intelectuais, mesmo que sua obra tenha umedecido os olhos dos mais notáveis escritores brasileiros, ainda assim é para o Brasil de hoje um anônimo colossal.
Nos seus cento e vinte e cinco anos, nenhuma nota do Ministério da Cultura, nenhuma menção no site da Academia Brasileira de Letras, nenhuma homenagem de nossas Universidades ilustres. As editoras mais consagradas sequer publicam Corção, tarefa que restou às editoras emergentes. Nada disso surpreende: há tempos que uma vasta nuvem de ignorância cobre a cultura nacional. Mesmo em vida, Corção caiu no ostracismo. Seus escritos católicos, suas análises desconcertantes da crise do mundo e da Igreja eram um escândalo para a classe intelectual emergente da época.
A obra de Corção, a quem Bandeira sugeriu o Prêmio Nobel, não foi reeditada por décadas após sua morte. Sucederam-se gerações sem conhecer o milagre da conversão em “A Descoberta do Outro”, a estética formidável em “O Desconcerto do Mundo”, o romance de notável amplitude filosófica em “Lições de Abismo”, além de centenas de crônicas, todas envolvidas no fino tecido de seu estilo descritivo e imagético, de sua prosa poética e visceral. A recente reedição de seus livros é um foco singelo de esperança para todos nós. Esperemos então, com vibrante paciência, o dia em que a sabedoria deste escritor supremo irá iluminar o coração e a inteligência do povo brasileiro.
Viva Gustavo Corção!
Escrito no dia 17 de dezembro de 2021
Uma resposta em “Breve homenagem a Gustavo Corção”
Essa homenagem do Matheus ao Corção está ótima! O Chesterton brasileiro deve ser mais valoroso mesmo.