A liberdade cristã é uma liberdade relativa ao fim. Relativa ao Bem. Está na capacidade de alcançar voluntariamente um bem autêntico, na ordem devida dos bens presentes na realidade, até chegar ao Bem Absoluto, que é Deus, realizando o Fim da Existência. Logo, o homem livre é aquele que remove os obstáculos internos(paixões desordenadas, ignorância, malícia) e externos(políticos, sociais, econômicos) que impedem a realização do seu Fim. A liberdade está em possuir, aderir a esta finalidade. Fim esse que é Universal, comum a todos os homens, sendo que cabe a todos os indivíduos perseguir este fim, Ordenando suas qualidades individuais para os fins comuns e universais. Posto isto, a liberdade individual não é um fim em si mesma, mas sim meio, instrumento para lograr o Bem-Comum.
Dado a enorme dificuldade e drama do Ser-Humano em possuir esses fins que ele tende, (pois estão inscritos em suas potências) mas que tanto lhe custam, e que a experiência mostra dia-após-dia que eles são impossíveis de serem conquistados por meros esforços humanos, Dado o fato Revelado que todos possuem uma ferida na natureza, tendo uma desordem nas faculdades mais excelentes(inteligência e vontade) muitas vezes não conseguindo alcançar os seus respectivos objetivos(conhecer a Verdade e querer o Bem) gerando uma deficiência em suas operações e consequentemente reduzindo em enorme grau sua liberdade. Tal acontecimento denominado de Pecado Original (o qual seus efeitos são constatados empiricamente, mas a causa é anuída pela Fé).
Sabe-se também por Revelação Divina, que o Próprio Verbo de Deus, que é Deus, se Encarnou e assumiu a Natureza Humana, dando a possiblidade do ser-humano alcançar sua ótima operação natural e adquirir a Vida Divina, presente desde Sempre na Própria Divindade e comunicada aos homens pela Encarnação de Deus. Nisto consiste a realização plena do Homem, em entrar em União Comum(Comunhão) com Deus que se fez Homem, participando da Natureza Divina, alcançando não só os seus fins naturais, mas ordenando essencialmente ao seu Fim Último que é Sobrentaural. Recuperando assim, sua verdadeira dignidade, como é pensada por Deus, onde o homem que fora criado Imagem do Criador e agora conquistando a Semelhança com Ele, tornou-se deificado em Jesus Cristo. A liberdade da pessoa humana é relacional, é a participação efetiva da liberdade criativa de Deus. Assemelhando-Se ao Modelo pelo qual o homem e todas as coisas foram feitas: o Verbo Divino, que na plenitude dos tempos veio ao mundo.
Já a liberdade existencialista consiste em dizer que o ser-humano não tem essência, logo, não possui vetor, não possui nenhum Fim objetivo e comum a se alcançar. Para o ateu existencialista, ele é seu próprio “deus”, onde enxerga na sua individualidade uma absoluta soberania, deriva disto, que sua liberdade se baseia em se auto-projetar na existência, construindo seu próprio fim subjetivo e individual e seus valores serão decorrentes dos próprios resultados contingentes de sua projeção particular. Para ele, diz que a liberdade individual é “absoluta”, mas nessa “liberdade ilimitada do indivíduo” estão implícitas duas restrições básicas:
1- O ser-humano NÃO PODE pensar, nem agir em termos universais, pois ele é privado de considerar a humanidade em plano universal, já que para ele não existe natureza humana de forma essencial. Logo, é proibido de considerar padrões absolutos e comuns de comportamento e pensamento, pois não considera a existência destes, somente pode pensar em padrões relativos, individuais, pessoais, contigentes, que se direcionam ao mesmo destino que todos os outros padrões dos demais seres que convivem com ele: o nada. O ser-humano é um quase-nada entre dois nadas efetivos: um inicial(vir-a ser) outro final(deixar-de-ser). Ele acredita ser livre para tudo, mas não consegue se livrar do nada, da morte, que lhe é inevitável, e se aproxima a cada dia.
2- É também PROIBIDO de considerar gradações de qualidade objetivas, visto que ele não concebe a existência de uma ordem pré-definida de bens na realidade na qual o ser-humano apreende. Logo não existem bens maiores e bens menores, nem princípios morais radicados pela reta ratio. Tudo o que existe são considerações de hierarquias de cunho meramente pessoal e subjetivo. Em última análise, não se pode dizer que um pai que abandona os filhos recém-nascidos têm uma vida moral objetivamente inferior a um São Francisco de Assis, e nem que haja diferença objetiva alguma entre a vida de alguém que voluntariamente optou por uma vida irrefletida e rude, e outro alguém que escolheu uma vida intelectual e de virtude. O resultado é sempre único e igual: o nada. Todos os esforços e conquistas são em consequência final, em vão. Questões de justiça são baseadas meras convenções sociais e políticas que são sempre mutáveis, pragmáticas e portanto, acidentais. Restam somente postulados de seres atomizados que não tem qualquer validade fora do indivíduo. Não há tarefas, nem cobranças, não há dever real, nem direitos reais. Somente imputacões artificiais realizadas pelas instituições(nas quais muitas vezes adquirem neste caso um caráter mais ou menos religioso, atribuindo a elas o papel de uma “redenção imanente” que nunca acontece), e caprichos efêmeros, que mudam como as estações.
Tudo é indiferente e instável, a vida não tem dignidade intrínseca, não existe diferença, em última análise, em ser um homem ou um cachorro. A morte e o não-ser esperam os dois.
Mas como se atesta pela experiência mais radical: a realidade não é somente existência, mas também resistência. Isso se traduz que mesmo que não se conceba a existência de bens objetivos, eles ainda continuam a subsistir nas coisas, e cada vez que alguém se desvincula deles, cria-se pouco a pouco uma espécie de esquizofrenia intelectual, onde os produtos mentais já não encontram nenhum respaldo na realidade, nenhuma correspondência ontológica, e quando mais se fica alheio aos bens reais, frustram-se as capacidades mais excelentes, as potencialidades se atrofiam, se deformam. Torna-se escravo das conseqüências que vêm inevitavelmente. Levado as últimas considerações, têm-se a degeneração e auto-aniquilação como meta.
A consequência próxima desta visão é a sensualidade e o cinismo generalizados, a perda de gravidade da vida, já que só se leva a sério o que vale a pena, mas não vale tão a pena viver. Resta a paródia, a sátira de tudo, a irreverência compulsória, a procura desenfreada por consolações carnais, que servem como entorpecente para esquecer essa fatalidade trágica. Acontece que rir demais perde a graça e enjoa, e excesso de sensualidade desviada do seu sentido satura a própria captação sensível, destrói a densidade ontológica dos afetos humanos, dessensibilizando, anestesiando, produzindo pessoas emocionalmente instáveis e incompletas e logo chega a consequência última: a angústia e o desespero. A realidade é sufocante.
Não há vida coerente neste pensamento suicida. Apenas auto-engano.
Em nome de um direito ilimitado e imanente do indivíduo, eles mutilam o ser-humano, aprisionam ele no plano individual, reprimem a liberdade para as duas coisas mais excelentes que o ser-humano é capaz: a Verdade e o Bem. Que são os Transcendentais do Ser.
Pôr no indivíduo uma suposta “autonomia absoluta” É uma fantasia, uma quimera, visto que o próprio indivíduo não é o Ser Absoluto, mas sim um ser relativo(que estabelece relações), logo, não basta a si mesmo. Não existe autonomia absoluta em termos humanos, apenas autonomia relativa, que consiste em remover os entraves que impedem a consecução dos seus autênticos fins e com isto chegar na sua plenitude entitativa. Todo ser-humano tende a um fim supra-individual, tende ao Absoluto. É capaz do Absoluto. O existencialismo retira qualquer liberdade real do ser-humano, em nome de uma “liberdade de opção e de indiferença” que no fim das contas é sempre mentirosa.
Que hoje e sempre nós saibamos viver a verdadeira e única liberdade: a dos filhos de Deus, conquistada na Cruz, pelo Unigênito Filho de Deus que atrai tudo para Si.
Por André Abdelnor Sampaio.